domingo, 1 de agosto de 2010

Modus urbanos_Modus bucólicos

Há aquelas pessoas que nunca saíram da sua aldeia e têm medo da cidade, certo? Têm medo da confusão, dos ladrões, de andar de metro, do transito que não acaba. Se têm de ir à cidade, quase que se recusam. (E quando falo em cidade, falo numa cidade mais ou menos grande, não numa nano cidade).

Pois é. Eu cá descobri que tenho medo do campo. Do verdadeiro campo. Daquele com ovelhas, vacas, e um silêncio tenebroso. Daquele onde se vai a conduzir numa estrada sem luzes e de repente salta um coelho. Onde não há multibanco, nem autocarros, quase não há rede de telemóvel, e existe um único café que não tem café “porque está muito calor”.

A noite é escura, escura. Os sapos não se calam. As ovelhas passam o tempo a chocalhar. Isto pode ser tudo muito bonito para uma escapadela, mas para o dia-a-dia, deixa muito a desejar.

Perguntava-me a mim própria o que é que aquelas pessoas faziam na vida, quais são as oportunidades de trabalho que ali podem ter? Quantos km têm de fazer para chegar a um supermercado, a um hospital, a uma escola secundária?

Apesar de ser noutra ponta do país, não pude deixar de pensar na aldeia da minha avó. Mais ou menos abandonada, todos saíram de lá em busca de uma vida melhor.
Mas anos mais tarde, tiveram vontade de voltar, reconstruir as casas, mantê-las com a traça antiga, fazer dali um pedacinho de paraíso. Mas não para permanecerem a tempo inteiro. Um refúgio para escapar à confusão da cidade.

E sim, durante 3 ou 4 dias, pode-se estar muito bem. A respirar ar puro, a descansar à sombra da árvore, enquanto nos balançamos numa cama de rede, a ver as estrelas que na cidade já pouco se vêm.

Sabe bem.

Mas a cidade, a cidade é a minha casa. Gosto dela. Gosto da confusão. Do metro à porta de casa. Da possibilidade de escolha de restaurantes, de museus, de cinemas, de lojas, de bibliotecas.

Gosto deste cantinho de betão. Gosto de estar cá e saber que volta e meia tenho a natureza á minha espera. E o mar. E as infinitas noites escuras com um céu estrelado. Mas que é à cidade que pertenço.

1 comentário:

Carolinna disse...

Já me disseram "no campo é que se aprende, a cidade é só tentações!". Claro que não concordo e até fiquei irritada... A questão é que em cada sítio se têm vivências diferentes. Nenhuma é mais importantes que outra, são apenas diferentes. Não é melhor viver no campo, nem é melhor viver na cidade. Cada um tem as suas mais valias, e também os seus problemas.
Claro que quando morei no campo me fazia falta ir ao cinema sem ter de andar 50km, ou ao teatro sem ter de andar 100km! Mas confesso que vivendo na cidade também me faz falta sentir o cheiro do campo, ouvir as cigarras nas noites de Verão, e ver o céu estrelado que não se consegue ver na cidade...