sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Eu desejo impossivelmente o possível

Sinto-me completamente na alma de Álvaro de Campos.

"O que há em mim é sobretudo cansaço —
 Não disto nem daquilo,
 Nem sequer de tudo ou de nada:
 Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
 Cansaço.

 A subtileza das sensações inúteis,
 As paixões violentas por coisa nenhuma,
 Os amores intensos por o suposto em alguém,
 Essas coisas todas —
 Essas e o que falta nelas eternamente —;
 Tudo isso faz um cansaço,
 Este cansaço,
 Cansaço.

 Há sem dúvida quem ame o infinito,
 Há sem dúvida quem deseje o impossível,
 Há sem dúvida quem não queira nada —
 Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
 Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

 E o resultado?
 Para eles a vida vivida ou sonhada,
 Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço,
Íssimo, íssimo, íssimo,
Cansaço..."

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