domingo, 28 de fevereiro de 2010

Tenho de sair de casa para ir apanhar o comboio e chove granizo que até dói.

No meu tempo não era assim. No meu tempo, o Algarve era um paraíso à beira mar plantado, em que chovia 10 minutos e parava, e a temperatura era sempre relativamente quente. Ontem quase que voava com o vento. Este já não é o "meu" Algarve.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Decididamente deixei de saber falar Algarvio (ou fusetense e olhanense). Hoje um senhor na rua aborda-me a mim e ao meu pai e pergunta algo que nos pareceu com isto:

"Querem um balde?"

Nós ficámos a olhar um para o outro e a pensar: "mas que raio! Um balde? Temos ar de pescadores? Ou será para irmos para a ilha apanhar conchinhas e conquilha?"

Até que o senhor deve ter percebido que "nós não somos de cá" e retoma a pergunta desta vez com uma pronúncia muito menos serrada:

"Querem robalo?"


Ahhhhhhhhhhhhhh

"Não, obrigado! Nem sabemos escamar peixe!"
Não sei lidar com a morte. Fico estática, sem reacção, e depois, uma dor lancinante invade-me, aperta-me o coração.

A minha tia F. partiu no dia 21. Apesar de não haver uma grande ligação custou-me esta perda, doeu-me o sentimento de incapacidade que se apoderou de mim. Talvez ainda me doa mais porque vejo que alguém muito próximo de mim está a sofrer muito.

E assim acabou uma linhagem de irmãos. Ficámos nós. Todos tão longe.

Descansa em paz.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Parabéns Pai!

Definitivamente é ele O homem da minha vida!

É ele que me faz sorrir, que me faz dar uma boa gargalhada, que está presente (e isso é tão importante...). Às vezes chateamo-nos, mas é sol de pouca dura, até porque... não há amor como o primeiro!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Hoje para mim é Sexta!


Pois é, vou ter um (unzinho) dia de férias!


E vou rumar a sul, e o bem que isso me faz...


Esta semana teve de tudo, foram perdas, comemorações, alegrias, dores no coração e de alma, incoformismos...


Mas acima de tudo quero sempre pensar que Este é o primeiro dia do resto da minha vida.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Hoje ouvi uma coisa muito bonita, apesar de poder ser um tanto ou quanto lamechas.

Adoro surpreender a minha família!

Odiamos - Que a Olá descontinue alguns gelados

Primeiro foi o Pé. Depois o Roll. O Fizz. O Sky. O Calipo de ananás. Aos poucos, e assim de fininho, a carta de gelados da Olá foi ficando mais pobre. Levaram-nos tudo, os melhores gelados. Estava uma pessoa em ânsias o ano todo, à espera do tempo quente e da chegada do seu gelado favorito, e depois era o desgosto, a desilusão. Os olhos percorriam o cartaz em desespero. O Pé??? Onde é que está o Pé??? O que é que fizeram ao Pé??? Tentava-se descortiná-lo num qualquer canto, talvez escondido atrás dos Cornettos, esses velhacos que sempre foram os meninos dos olhos da Olá. E nada. O Pé já lá não estava. Depois uma pessoa afeiçoava-se a outro gelado, e voltava a acontecer o mesmo. Mais ano, menos ano, e era vê-lo sumir-se da carta, qual Houdini. Está bem que entretanto chegaram outros. Como o Magnum, que é um bom gelado, tem o seu mérito, ninguém duvida, mas não podem continuar a fazer-nos isto. É uma facada no peito de cada vez que um gelado é descontinuado. E porquê? Porquê? Os gelados não podem ser todos amigos? Não podem todos conviver alegremente na mesma arca congeladora? Vá lá, senhores da Olá. Ouçam as nossas preces e não nos causem mais desgostos, que o coração não aguenta.

Ana Garcia Martins

In http://timeout.sapo.pt/news.asp?id_news=5037




Finalmente alguém me compreende! Eu A-D-O-R-A-V-A o Pé! E onde está ele? Aparentemente só em Espanha! Tive um belo reencontro quando estive em Barcelona, lá estava ele no cartaz a olhar para mim!!



E quando era pequenina os gelados da Olá nem se comercializavam no inverno (pelo menos na minha terra nem os via). E o que eu entrei em extâse quando estive em Itália quando tinha 4 aninhos e descobri que os gelados da dita Olá italiana estavam disponiveis o ano todo e com sabores fantásticos que misturavam o mirtilho e o chocolate!? I'm going back to Italia!



E o Tigre? Alguém se lembra do Tigre?


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Desejos de uma criança de 3 anos sobre as bibliotecas

No ano passado por este altura estive na Madeira, e isso não me sai da cabeça. Vivi momentos fantásticos, a ilha é lindíssima, os madeirenses muito hospitaleiros e a comida óptima. Onde antes vivi o que podem ver abaixo, agora apenas resta um rasto de destruição... E verdade seja, não estava à espera que me custasse tanto.












quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quero, quero, quero!


Dizem vocês: "é um bocado pindérico!"


Talvez seja, mas ADOREI!

Tcharan!


E o blazerzito que já não apertava há dois anos, hoje ao sair do armário apertou!


Ou o cativeiro dentro do armário o fez alargar, ou houve alguém que emagreceu...


quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Estávamos em 2003 e eu julgava saber tanto da vida (na verdade não sabia mesmo nada...), amava o Teatro sem igual, dizia que por ele faria tudo. Mas depois de algumas lambadas, de muitas noites sem dormir, de alguma dor, do choque com a realidade, lá me apercebi que esta vida não é só um grande amor e uma cabana.

Tinha 18 anos e estava perdida. Saída da pele de Petra von Kant acabei por ir para a universidade porque quis contrariar o futuro incerto que ali via. Quis seguir um caminho muito perto, paralelo, mas do outro lado. Não correu bem.

Tantas coisas mudaram e re-aprendi a gostar de outra coisa. Sinto-me relativamente feliz. Não nego que era outro caminho que gostava de ter seguido.

Vejo tanta gente que passou pelos mesmos sítios em que me tornei menina-mulher e pergunto-me se apesar de terem continuado estão realmente felizes. Pergunto-me se pensam no futuro. Se fazem descontos dos recibos verdes que passam. Se têm dinheiro para as coisas que gostam de fazer. Se têm oportunidade de viajar ou se estão sempre à espera da próxima oportunidade que não chega. Se têm horários. Se têm (simplesmente) dinheiro para comer (e eu sei que às vezes não têm...).

Admiro muito quem consegue viver na incerteza de uma carreira, que depois de um projecto não sabe que outro virá e quando virá. Nem todos têm a oportunidade de carreiras brilhantes e bem remuneradas. Admiro quem fez sacrificios, pediu empréstimos e comeu arroz branco porque o dinheiro não chegava para mais para poder estudar Teatro no estrangeiro.

Eu já não sou assim. Não consigo. Cresci e comecei a ter outro tipo de ambições. Hoje, era incapaz de viver nas incertezas que vivi durante alguns anos, a gastar tempo em castings e em projectos que apesar de experiência não me deram a ver a cor do dinheiro.

Não me digam para não viajar, para não ir jantar fora, para não comprar livros e sapatos por amor à arte. Isso não é amor. Viver mal por amor, não fazer outras coisas que também se gosta por amor, é uma forma de nos magoar-mos ainda mais, de guardar-mos rancores, ódios. E tanta gente que não se curou... Que em vez de amor, agora não passa de uma amargura antiga.

Vivo com o "bichinho" dentro de mim, adoro o Teatro, mas também já lhe guardei algum ódio. Acho que me curei.

Já não sofro quando entro numa sala de teatro, mas ainda me custa, e irá sempre custar.
Depois deste post restaram dois documentos: uma ode de Álvaro de Campos (que tanto me marcou ler nas primeiras aulas de Expressão Oral) e um artigo de António Barreto publicado no Público há já alguns anos sobre Os velhos.

Quanto à Ode, aqui vai:

Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio. Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.
Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mãos caídas
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das árvores próximas.
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco só do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo.
Todas as estradas que a sobem,
Todas as várias árvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as árvores,
E deixa só uma luz e outra luz e mais outra,
Na distância imprecisa e vagamente perturbadora.
Na distância subitamente impossível de percorrer.
Nossa Senhora
Das coisas impossíveis que procuramos em vão,
Dos sonhos que vêm ter connosco ao crepúsculo, à janela.
Dos propósitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das músicas e das vozes longe e perto.
E que doem por sabermos que nunca os realizaremos...
Vem, e embala-nos,
Vem e afaga-nos.
Beija-nos silenciosamente na fronte,
Tão levemente na fronte que não saibamos que nos beijam
Senão por uma diferença na alma.
E um vago soluço partindo melodiosamente
Do antiquíssimo de nós
Onde têm raiz todas essas árvores de maravilha
Cujos frutos são os sonhos que afagamos e amamos
Porque os sabemos fora de relação com o que há na vida.
Vem soleníssima,
Soleníssima e cheia
De uma oculta vontade de soluçar,
Talvez porque a alma é grande e a vida pequena.
E todos os gestos não saem do nosso corpo
E só alcançamos onde o nosso braço chega,
E só vemos até onde chega o nosso olhar.
Vem, dolorosa,
Mater-Dolorosa das Angústias dos Tímidos,
Turris-Eburnea das Tristezas dos Desprezados,
Mão fresca sobre a testa em febre dos humildes.
Sabor de água sobre os lábios secos dos Cansados.
Vem, lá do fundo
Do horizonte lívido,
Vem e arranca-me
Do solo de angústia e de inutilidade
Onde vicejo.
Apanha-me do meu solo, malmequer esquecido,
Folha a folha lê em mim não sei que sina
E desfolha-me para teu agrado,
Para teu agrado silencioso e fresco.
Uma folha de mim lança para o Norte,
Onde estão as cidades de Hoje que eu tanto amei;
Outra folha de mim lança para o Sul,
Onde estão os mares que os Navegadores abriram;
Outra folha minha atira ao Ocidente,
Onde arde ao rubro tudo o que talvez seja o Futuro,
Que eu sem conhecer adoro;
E a outra, as outras, o resto de mim
Atira ao Oriente,
Ao Oriente donde vem tudo, o dia e a fé,
Ao Oriente pomposo e fanático e quente,
Ao Oriente excessivo que eu nunca verei,
Ao Oriente budista, bramânico, sintoísta,
Ao Oriente que tudo o que nós não temos.
Que tudo o que nós não somos,
Ao Oriente onde — quem sabe? — Cristo talvez ainda hoje viva,
Onde Deus talvez exista realmente e mandando tudo...
Vem sobre os mares,
Sobre os mares maiores,
Sobre os mares sem horizontes precisos,
Vem e passa a mão pelo dorso da fera,
E acalma-o misteriosamente,
Ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!
Vem, cuidadosa,
Vem, maternal,
Pé antepé enfermeira antiquíssima, que te sentaste
À cabeceira dos deuses das fés já perdidas,
E que viste nascer Jeová e Júpiter,
E sorriste porque tudo te é falso e inútil.
Vem, Noite silenciosa e extática,
Vem envolver na noite manto branco
O meu coração...
Serenamente como uma brisa na tarde leve,
Tranquilamente com um gesto materno afagando.
Com as estrelas luzindo nas tuas mãos
E a lua máscara misteriosa sobre a tua face.
Todos os sons soam de outra maneira
Quando tu vens.
Quando tu entras baixam todas as vozes,
Ninguém te vê entrar.
Ninguém sabe quando entraste,
Senão de repente, vendo que tudo se recolhe,
Que tudo perde as arestas e as cores,
E que no alto céu ainda claramente azul
Já crescente nítido, ou círculo branco, ou mera luz nova que vem,
A lua começa a ser real.

Álvaro de Campos - Dois Excertos de "Odes" (Fins de duas odes, naturalmente)

Gosto de surpresas positivas.

Gosto de coincidências.

Gosto de não estar à espera e encontrar.
Notícias destas fazem com que o meu coração fique apertado, é como se parte da minha vida estivesse a ser destruída. Como se no futuro esta praia deixasse de fazer parte dos meus dias, e nada mais houvesse para contar do que recordações.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Coisas que odeio na minha universidade

O tempo de espera para o lançamento das notas dos testes (um mês...). Pior que o momento em que o fazemos, só mesmo esta espera que me mata.

E já que estou numa de me queixar...

Pronto, e os serviços administrativos também não funcionam bem. Mas com isso posso eu bem.

The promise kept


Acho que ao comer esta tabelete inteirinha cumpri uma promessa para 2010. Sim vou comer mais chocolate este ano!

sábado, 13 de fevereiro de 2010

These shoes aren't made for walking




Comprei uma cortina linda para a banheira! Com sapatos, pois claro! Mas estes não são para caminhar!
Não posso acordar cedo que fico logo com vontade de dar uma volta cá por casa e deitar fora o que já não me interessa. Hoje vão 4 anos da minha vida para a reciclagem.

Sofro de um grave problema. Adoro o IKEA! O que me vale é que não tenho carro, caso contrário era ver-me a arrastar todas as semanas o meu homem e a minha mãe para lá jantarmos.
Acho que um belo dia vou lá chegar e mobilar uma casa toda, inteirinha, ao meu gosto e sem ninguém opinar! Perco-me sempre por lá, para já veio só (e também outras utilidades) esta fantástica mesa que tanto jeito me dará para trabalhar no PC e ver filmes na caminha. E pois claro, a fazer pendant com a cama!

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Desde que estive em Londres por uma temporada mais alargada comecei a reparar na diferença de preços que existia entre cá e lá no que respeita a jogos para consolas, cds, dvds e afins. Logo ali desgracei-me: só de uma vez foram três dvds da Liga de Cavalheiros. Depois, como tive de voltar para terras lusitanas, lá tive de me redimir a re-adaptar: subscrevi tudo o que são newsletters de HMV, Game e afins.

Ontem, aprecebi-me que o pack com todas as temporadas do Sex and the City, cá custa 99.99€ na Fnac e na HMV custa 39.99£. Uma ligeira diferença, hã?

E pensar que por norma um inglês ganha mais que um português...

E já agora, porque é que a Primark é mais barata em Londres do que em Lisboa (pronto, no distrito de Lisboa, que aquilo é Casal da Mira)?

Posto isto, e porque acho que uma resposta destas tem mesmo de ser publicada, ontem uma conversa por sms foi assim :

Eu - "Acabei de ver e o pack do Sex and the City custa cá 99€! Vou mas é morar para Londres!"

C. - "Vais morar para Londres e acabas a morar debaixo da Millenium Bridge com 200 caixas de dvd e 400 pares de sapatos!"

Pronto, ela tem razão. Londres é fria e a Millenium Bridge apesar de bonita não tem nada de quentinha e confortável, muito menos tem um ar caseiro e aconchegante. Resta-me cá a casa da mamã e os 50 pares de sapatos e as vá, 10 caixas de dvd.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O mal de não ver um boi à frente sem óculos, é não conseguir perceber se a pessoa que está ali a 3 metros de distância é alguém que nos interessa ou da qual nos devemos pôr a milhas.
O trabalho desta manhã e qualquer semelhança entre cortar bacalhau e serrar presunto não é simples ficção. É a realidade.

Resta-me ficar contente por saber que um dia, quando sair daqui, há um Pingo Doce desta vida à minha espera.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Balanço do dia

2 clonix
1 nimed
1 paracetamol


Uma (provável) úlcera daqui a uns anos

Autobiografia de Rosa Lobato Faria

Quando eu era pequena havia um mistério chamado Infância. Nunca tínhamos ouvido falar de coisas aberrantes como educação sexual, política e pedofilia. Vivíamos num mundo mágico de princesas imaginárias, príncipes encantados e animais que falavam. A pior pessoa que conhecíamos era a Bruxa da Branca de Neve. Fazíamos hospitais para as formigas onde as camas eram folhinhas de oliveira e não comíamos à mesa com os adultos. Isto poupava-nos a conversas enfadonhas e incompreensíveis, a milhas do nosso mundo tão outro, e deixava-nos livres para projectos essenciais, como ir ver oscilar os agriões nos regatos e fazer colares e brincos de cerejas. Baptizávamos as árvores, passeávamos de burro, fabricávamos grinaldas de flores do campo. Fazíamos quadras ao desafio, inventávamos palavras e entoávamos melodias nunca aprendidas.Na Infância as escolas ainda não tinham fechado. Ensinavam-nos coisas inúteis como as regras da sintaxe e da ortografia, coisas traumáticas como sujeitos, predicados e complementos directos, coisas imbecis como verbos e tabuadas. Tinham a infeliz ideia de nos ensinar a pensar e a surpreendente mania de acreditar que isso era bom. Não batíamos na professora, levávamos-lhe flores.E depois ainda havia infância para perceber o aroma do suco das maçãs trincadas com dentes novos, um rasto de hortelã nos aventais, a angustia de esperar o nascer do sol sem ter a certeza de que viria (não fosse a ousadia dos pássaros só visíveis na luz indecisa da aurora), a beleza das cantigas límpidas das camponesas, o fulgor das papoilas. E havia a praia, o mar, as bolas de Berlim. (As bolas de Berlim são uma espécie de ex-libris da Infância e nunca mais na vida houve fosse o que fosse que nos soubesse tão bem).Aos quatro anos aprendi a ler; aos seis fazia versos, aos nove ensinaram-me inglês e pude alargar o âmbito das minhas leituras infantis. Aos treze fui, interna, para o Colégio. Ali havia muitas raparigas que cheiravam a pão, escreviam cartas às escondidas, e sonhavam com os filmes que viam nas férias. Tínhamos a certeza de que o Tyrone Power havia de vir buscar-nos, com os seus olhos morenos, depois de nos ter visto fazer uma entrada espampanante no salão de baile onde o Fred Astaire já nos teria escolhido para seu par ideal.
Chamava-se a isto Adolescência, as formas cresciam-nos como as necessidades do espírito, música, leitura, poesia, para mim sobretudo literatura, história universal, história de arte, descobrimentos e o Camões a contar aquilo tudo, e as professoras a dizerem, aplica-te, menina, que vais ser escritora.Eram aulas gloriosas, em que a espuma do mar entrava pela janela, a música da poesia medieval ressoava nas paredes cheias de sol, ay eu coitada, como vivo em gran cuidado, e ay flores, se sabedes novas, vai-las lavar alva, e o rio corria entre as carteiras e nele molhávamos os pés e as almas.
Além de tudo isto, que sorte, ainda havia tremas e acentos graves. Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).
Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.Depois foram as circunstâncias da vida. A alegria de mais um filho, erros, acertos, disparates, generosidades, ingenuidades, tudo muito bom para aprender alguma coisa. Tudo muito bom. Aprender é a palavra chave e dou por mal empregue o dia em que não aprendo nada. Ainda espero ter tempo de aprender muita coisa, agora que decidi que a Bíblia é uma metáfora da vida humana e posso glosar essa descoberta até, praticamente, ao infinito.Pois é. Eu achava, pobre de mim, que era poetisa. Ainda não sabia que estava só a tirar apontamentos para o que havia de fazer mais tarde. A ganhar intimidade, cumplicidade com as palavras. Também escrevia crónicas e contos e recados à mulher-a-dias. E de repente, aos 63 anos, renasci. Cresceu-me uma alma de romancista e vá de escrever dez romances em 12 anos, mais um livro de contos (Os Linhos da Avó) e sete ou oito livros infantis. (Esta não é a minha área, mas não sei porquê, pedem-me livros infantis. Ainda não escrevi nenhum que me procurasse como acontece com os romances para adultos, que vêm de noite ou quando vou no comboio e se me insinuam nos interstícios do cérebro, e me atiram para outra dimensão e me fazem sorrir por dentro o tempo todo e me tornam mais disponível, mais alegre, mais nova).Isto da idade também tem a sua graça. Por fora, realmente, nota-se muito. Mas eu pouco olho para o espelho e esqueço-me dessa história da imagem. Quando estou em processo criativo sinto-me bonita. É como se tivesse luzinhas na cabeça. Há 45 anos, com aquela soberba muito feminina, costumava dizer que o meu espelho eram os olhos dos homens. Agora são os olhos dos meus leitores, sem distinção de sexo, raça, idade ou religião. É um progresso enorme.Se isto fosse uma autobiografia teria que dizer que, perto dos 30, comecei a dizer poesia na televisão e pelos 40 e tais pus-me a fazer umas maluqueiras em novelas, séries, etc. Também escrevi algumas destas coisas e daqui senti-me tentada a escrever para o palco, que é uma das coisas mais consoladoras que existem (outra pessoa diria gratificantes, mas eu, não sei porquê, embirro com essa palavra). Não há nada mais bonito do que ver as nossas palavras ganharem vida, e sangue, e alma, pela voz e pelo corpo e pela inteligência dos actores. Adoro actores. Mas não me atrevo a fazer teatro porque não aprendi.
Que mais? Ah, as cantigas. Já escrevi mais de mil e 500 e é uma das coisas mais divertidas que me aconteceu. Ouvir a música e perceber o que é que lá vem escrito, porque a melodia, como o vento, tem uma alma e é preciso descobrir o que ela esconde. Depois é uma lotaria. Ou me cantam maravilhosamente bem ou tristemente mal. Mas há que arriscar e, no fundo, é só uma cantiga. Irrelevante.Se isto fosse uma autobiografia teria muitas outras coisas para contar. Mas não conto. Primeiro, porque não quero. Segundo, porque só me dão este espaço que, para 75 anos de vida, convenhamos, não é excessivo. Encontramo-nos no meu próximo romance.


(escrita por Rosa Lobato Faria há dois anos e publicada no Jornal de Letras)

E se de repente houvesse a hipótese de se casar? Too early?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

sábado, 6 de fevereiro de 2010

La la la la London








Uma coisa é certa - vim mais cheia de mim própria, mais segura de mim mesma. Nunca tinha estado num país estrangeiro a fazer uma formação. Tinha estado apenas a trabalhar (também em Londres) num restaurante, mas a responsabilidade não era a mesma.
Vim muito mais confiante do que parti - tinha medo de tanta coisa - da exigência, de não ser a minha língua, de me sentir desenquadrada...
Mas afinal correu tudo muito bem, e o que eu gostaria de ter ficado mais tempo! Nestes dias tive necessidade de escrever, escrever muito, queria escrever tudo o que me acontecia, o que sentia, a auto-estima que se elevava.
Trabalhar onde trabalho pode não ser o melhor sitio do mundo (também, quantos são?), mas uma coisa é bem verdade, nestes anos ganhei uma estaleca profissional (e também pessoal) que noutros sítios dificilmente ganharia.
Dois dias são muito pouco, mas o suficiente para sentir falta da família (e também da comida!). Mas um distanciamento físico da base afectiva é por vezes positivo porque nos faz relembrar o bem que temos.
E depois, mais que uma colega de trabalho, encontrei uma companheira de viagem - e isso às vezes não é fácil. Falámos, falámos, falámos, rimo-nos, demo-nos lindamente e é bom voltar ao escritório com essa sensação.

Um dia... quero, quero muito partir e saber que posso ficar quanto tempo quiser.


*Escrito na volta no Heathrow Express
Neste momento apetece-me tanto escrever sobre a fantochada que são os concursos públicos, mas não o vou fazer. Até porque não acredito muito na suposta democracia e na liberdade de expressão que por cá se vive.

Pronto, vou ficar caladinha.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Experiências que nos ficam coladas à pele


Um professor meu disse-me há pouco que existe um ditado brasileiro que reza assim:
"Há experiências que nos ficam coladas à pele"


E é tão verdade... Não poderia concordar mais... São estas experiências que independentemente do nosso percurso nunca daremos baixa, elas foram parte da nossa vida e acabarão sempre por influencia-la. Estão coladas a nós, ao que nos tornámos, nada muda as grandes aprendizagens.


O sítio da foto é um dos que me está colado à pele, local de onde vêm as minhas raízes, onde se respira tanto ar puro e me sinto livre e feliz.

Os conselhos que vos deixo #2

Não vão ao supermercado na hora de almoço (suspeito que se forem com duas amigas é pior) depois de terem comido apenas e só peixe e legumes cozido. O resultado pode ser este:






terça-feira, 2 de fevereiro de 2010


Pois claro, para começar bem o dia, lá pelo meio teve de correr mal. Mas em contrapartida houve um abraço que nada o fazia esperar e que me fez sentir tãaaaaaaaao melhor... É por isto que a vida sabe bem, e é por isto que apesar de tudo às vezes ainda sabe bem estar aqui.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Estou a pensar positivo. Este mês são 4 testes, um feriado, um dia de férias e menos dias para trabalhar.


Dia 1 de Março começa o novo semestre e eu vou estar mas é prontinha para ir de férias, mas pelo andar da carroça nem tão depressa as avisto.

É Segunda-Feira, so what?



Estou feliz, (vamos lá ver se não acontece nada pelo meio para me fazer sentir down...) a minha amiga V. está de férias em Londres e eu pedi-lhe para ela trazer-me uns sapatinhos da Next que na altura em que lá estive fiquei naquela do leva não leva e acabei por não levar. Só que pelos vistos não estamos com sorte... Já percorreu 4 lojas e não os encontrou, mas ainda tenho esperança!



Depois... mal cheguei ao escritório tinha uma prendinha da R.! Foi uma querida! Um creme da Victoria's Secret que eu adoro e que não se comercializa em Portugal. Só mesmo isto para me fazer começar bem o dia!


E hoje quero ir comprar a pasta e as fitas, afinal... sou finalista (eu sei... vocês já sabem disso!)


Always Look On the Bright Side of Life

Desta vez passa!

Porque tive 87,50 %! clap, clap, clap, clap.