sexta-feira, 24 de julho de 2009

Bibliotecas ao ar livre

“Bibliotecas ao ar livre” é o nome que se dá às pequenas bibliotecas que se podem agora encontrar nas ruas de algumas cidades alemãs. Abertas a qualquer hora do dia e da noite, estas bibliotecas contém uma vasta selecção de livros, e são mantidas por cidadãos anónimos.

Nem mesmo a chuva consegue afastar os habitantes de Bona das suas “Bibliotecas ao ar livre”. À volta da estante da Poppelsdorfer Allee, uma das cinco “bibliotecas” na cidade, há sempre uma grande agitação. De repente um carro pára, uma jovem sai e deixa livros novos na estante situada debaixo dos castanheiros: “Porque não ouvem os homens”, de Allan e Barbara Pease; e “Selige Zeiten, brüchige Welt”, de Robert Menasse. Estes dois livros juntam-se às cerca de duzentas outras obras que se encontram nas prateleiras da estante de dois metros com portas de vidro.

A ideia por detrás destas “Bibliotecas ao Ar Livre” é tão simples quanto engenhosa – qualquer pessoa pode dirigir-se às estantes, a qualquer hora do dia ou da noite, 365 dias por ano, e deixar ou levantar livros para ler. As bibliotecas são tão diversas e coloridas quanto os seus utilizadores: a ficção encontra-se ao pé da culinária e a informática confunde-se com os livros técnicos de psicologia. Estudantes, donas de casa, idosos e sem abrigo: todo o tipo de pessoas usa estas bibliotecas, alguns descobrindo-as por acaso, outros tendo já ouvido falar delas. “É também um local para comunicar”, diz Nicole Schmidt da Bürgerstiftung Bonn (uma fundação comunitária de Bona). “Os livros fazem as pessoas meter conversa umas com as outras.”

A biblioteca como escultura social

As “bibliotecas ao ar livre” são o resultado de um concurso de ideias organizado pela Bürgerstiftung Bonn em 2003, uma proposta de Trixy Royeck que conquistou toda a gente. Nessa altura Trixy estudava design de interiores em Mainz e inspirou-se nos artistas Clegg & Guttmann que, no início dos anos 90, instalaram as primeiras bibliotecas ao livre em Graz, na Áustria e depois em Mainz, na Alemanha. Clegg & Guttmann vêem as suas bibliotecas ao ar livre abertas como uma forma de escultura social, pois acreditam que a combinação de livros e a forma como as pessoas os tratam reflecte a estrutura do distrito urbano.

“Os casos de vandalismo ou roubo foram quase nulos”, declara Nicole Schmidt, que também afirma que, em todos os anos do projecto, nunca houve nenhum caso de graffiti a sujar as estantes, algo que surpreendeu os organizadores. A única excepção aconteceu na “Weiberfastnacht” (Quinta-feira das comadres), quando deitaram fogo às estantes localizadas no distrito Beutel de Bona. Por esta razão, esta é a única biblioteca que fecha nos últimos cinco dias antes do Carnaval.

Faça chuva ou faça sol

Homem apanha um livro nas ‚Bibliotecas ao ar livre’; Copyright: Südpol-Redaktionsbüro Köster & Vierecke /S.TentaOs habitantes de Bona não se preocupam só em usar as bibliotecas ao ar livre – sentem-se também responsáveis por elas. Alguns voluntários apadrinharam as bibliotecas e procuram assegurar que estas não contenham livros extremistas, pornográficos ou com material ofensivo e, de vez em quando, até limpam as portas de vidro. “Não sabemos o nome de todos estes guardiões”, explica Nicole Schmidt. “Por vezes os livros são organizados por transeuntes, e há mesmo quem nos ligue a avisar quando o vento estraga as portas de vidro”. A substituição ocasional das portas de vidro constitui um dos poucos custos de manutenção necessários. Estes custos também são suportados na sua totalidade por donativos. “Este projecto é totalmente auto-suficiente, não é necessário qualquer orçamento”, afirma a responsável da fundação.

As últimas duas estantes, compradas em Bona em Agosto de 2008, custaram 6000€ cada. “As portas destas estantes têm um sistema especial que fecha automaticamente as portas”, explica a Nicole Schmidt. O vidro também é muito mais estável e resistente às condições metereológicas, aguentando melhor o peso dos livros. A estrutura exterior é igual, composta de uma liga metálica especial que não enferruja. A estante de metal e vidro está cimentada chão, de forma a que possa sobreviver à mais severa das tempestades. Mas mesmo que chova durante muito tempo, a humidade não chega a afectar os livros, pois a flutuação dos livros é grande. “Há livros que desaparecem das estantes em poucos minutos”.

Algo para o caminho

‚Biblioteca ao ar livre’ na Poppelsdorfer Allee em Bona; Copyright: Südpol-Redaktionsbüro Köster & Vierecke /S.Tenta“Livros abandonados nas estantes não”. Este é o slogan do Bookcrossing, uma rede de troca de livros na internet. Este sítio web permite aos leitores disponibilizarem livros que já leram a outros leitores sem qualquer contrapartida financeira. Ao contrário do Bookcrossing, as “Bibliotecas ao ar livre” são organizadas a nível local. Disponíveis offline, são a solução ideal para os desejos espontâneos de leitura. Na Poppelsdorfer Allee em Bona, as estantes encontram-se perto da estação ferroviária, o que se revela uma vantagem, como confirma Nicole Schmidt: “muitos viajantes passam pelas estantes todos os dias, e quando precisam de algo para ler no comboio, levam um dos livros, devolvendo-o passado uns dias”. Quem gostar muito de um livro pode simplesmente ficar com ele e trazer outro oi substituir – algo que nenhuma outra biblioteca permite.

A fundação Bürgerstiftung de Bona está particularmente satisfeita com o facto de os turistas levarem a ideia de volta para as suas cidades natais. “Os turistas perguntam-nos como organizámos as nossas bibliotecas ao ar livre e enviam-nos recortes de imprensa quando criam este projecto nas suas cidades.” Entretanto foram também criadas “Bibliotecas ao ar livre” em Hannover, Darmstadt e Bayreuth, onde é possível encontrar não só livros de toda a espécie, mas também reconhecer o esforço e o empenho da comunidade, algo que se está a espalhar cada vez mais.


In http://www.goethe.de/ins/pt/lis/wis/sbi/art/bib/pt4048459.htm

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Pedras no caminho?

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da sua alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."


* Fernando Pessoa - para me relembrar que os obstáculos se ultrapassam...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

FÉRIAS!!!!!!!!!

Pois é. È quase, quase oficial. Dentro de poucos dias vou entrar de FÉRIAS!!!!!!!!!!!
Durante duas semanas vou deixar para trás o Unicorn, os jornais económicos, as pesquisas, os termos de Direito, os saltos altos, a montanha de livros chatos, a maquilhagem, o acordar cedo, os cafés sem fim, a difusão selectiva da informação e blá blá blá.
Acho que estas férias já são mais que merecidas. Quero descansar, quero estatelar-me ao sol, quero comer gelados da Gelvi, quero estar com o meu pai, quero passear por Sintra e andar por aí a rever a minha cidade (que é uma coisa que sei fazer muito bem).

terça-feira, 14 de julho de 2009

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A pergunta sem resposta

Essa é uma pergunta que já tirei há muito tempo da cabeça, justamente porque não sei respondê-la.
Não sou o único. No decorrer de todos estes anos, convivi com todo tipo de pessoas: ricas, pobres, poderosas e acomodadas. Em todos os olhos que cruzaram com os meus, sempre achei que estava faltando algo – e estou incluindo aí guerreiros, sábios, gente que não teria nada para se queixar.
Algumas pessoas parecem felizes: simplesmente não pensam no tema. Outras fazem planos: vou ter um marido, uma casa, dois filhos, uma casa de campo. Enquanto estão ocupadas com isso, são como touros em busca do toureiro: não pensam, apenas seguem adiante. Conseguem seu carro, às vezes conseguem até sua Ferrari, acham que o sentido da vida está ali, e não fazem jamais a pergunta. Mas apesar de tudo, os olhos traem uma tristeza que nem estas pessoas sabem que tem.
Não sei se todo mundo é infeliz. Sei que as pessoas estão sempre ocupadas: trabalhando além da hora, cuidando dos filhos, do marido, da carreira, do diploma, do que fazer amanhã, o que falta comprar, o que é preciso ter para não sentir-se inferior, etc.
Poucas pessoas me disseram: “sou infeliz”. A maioria me diz “estou ótimo, consegui tudo o que desejava”.
Então pergunto: “o que lhe faz feliz?”
Resposta: “Tenho tudo que uma pessoa podia sonhar – família, casa, trabalho, saúde”.
Pergunto de novo: “Já parou para pensar se isso é tudo na vida?”
Resposta: “Sim, isso é tudo”.
Insisto: “então o sentido da vida é trabalho, família, filhos que vão crescer e lhe deixar, mulher ou marido que se transformarão mais em amigos que em verdadeiros apaixonados. E o trabalho vai terminar um dia. O que fará quando isso acontecer? “
Resposta: não há resposta. Mudam de assunto. Mas sempre existe algo escondido: dono de empresa que ainda não fechou o negócio que sonhava, a dona de casa que gostaria de ter mais independência ou mais dinheiro, o recém-formado se pergunta se escolheu sua carreira ou a escolheram por ele, o dentista queria ser cantor, o cantor queria ser político, o político queria ser escritor, o escritor quer ser camponês.
Nesta rua onde escrevo a coluna e olho as pessoas caminhando, posso apostar que todo mundo está sentindo a mesma coisa. A mulher elegante que acaba de passar gasta seus dias tentando parar o tempo, controlando a balança, porque acha que disso depende o amor. No outro lado da calçada eu vejo um casal com duas crianças. Eles vivem momentos de intensa felicidade quando saem para passear com os filhos, mas ao mesmo tempo o subconsciente pensa no emprego que pode faltar, nas tragédias que podem acontecer, como se livrar delas, como se proteger do mundo.
Folheio as revistas de celebridades: todo mundo rindo, todo mundo contente. Mas como freqüento este meio, sei que não é assim: está todo mundo rindo ou se divertindo naquele momento, naquela foto, mas de noite, ou de manhã, a história é sempre outra. “O que vou fazer para continuar aparecendo na revista?” “Como disfarçar que já não tenho dinheiro o suficiente para sustentar meu luxo?” “Ou como administrar meu luxo fazê-lo maior, mais expressivo que o dos outros?” “A atriz com quem estou nesta foto rindo, celebrando, pode roubar meu papel amanhã!” “Será que estou mais bem vestida que ela? Por que sorrimos, se nos detestamos?”
Enfim, fico com os versos de Jorge Luis Borges: “Já não serei feliz, e isso não importa/ há muitas outras coisas neste mundo”.


Só isso?
Sri Ramakrisna conta que um homem estava preste a cruzar um rio quando o mestre Bibhishana se aproximou, escreveu um nome numa folha, amarrou-a nas costas do homem, e disse:
- Não tenha medo. Sua fé lhe ajudará a caminhar sobre as águas. Mas no instante em que perder a fé, você se afogará.
O homem confiou em Bibhishana, e começou a caminhar sobre as águas, sem qualquer dificuldade. A certa altura, porém, teve um imenso desejo de saber o que seu mestre havia escrito na folha amarrada em suas costas.
Pegou-a, e leu o que estava escrito:
"Ó deus Rama, ajuda este homem a cruzar o rio".
"Só isto?", pensou o homem. "Quem é esse deus Rama, afinal?"
No momento em que a dúvida instalou-se em sua mente, ele submergiu e afogou-se na correnteza.

Paulo Coelho
In Guerreiro da Luz

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A verdade é inevitável mesmo quando temos de magoar alguém de quem gostamos. Hoje início um novo ciclo.