quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Em jeito de balanço

Este ano tive a oportunidade de conhecer dois sítios fantásticos, cada um com uma beleza muito própria: Madeira e Barcelona. Fui igualmente feliz em ambas. Na primeira, pela beleza natural, pelas cascatas de água, pela vegetação, pela fruta, pela comida. A segunda por ter sido palco de "brincadeiras arquitectónicas" por Gaudí e tantos outros que a tornaram única, pelo cosmopolitismo, pelo dinamismo, pela luz que tão parecida é com a de Lisboa.

Contei duas perdas. Uma delas não tão perto, mas que me fez reflectir sobre a durabilidade de um amor. A outra, já por aqui se escreveu e essas palavras reflectem bem o que senti e o que significou.

Não sai tanto como queria, não visitei tantos museus, não viajei tanto, não me perdi tanto por Lisboa como queria.

Mas continuei a minha batalha para atingir o fim. Gastei muitas horas a ler, a escrever, a pensar em frente ao computador. E tantas vezes senti que seria aquela vez que não conseguia preencher a folha em branco que precisava para mais um trabalho para a universidade. Mas fi-lo. Todos feitos até agora.

Fiz coisas contrariada, pus cara feliz quando só quis chorar, arrastei-me para onde não quero, rezei por dias melhores. Não me habituei. Contos os dias para o fim desta passagem.

Fiz uma grande asneira e aprendi com ela, mas não sei ainda se as consequências acabaram. Talvez tivesse de ser assim. Ironicamente acabou por ser um abanão para me recordar o que era o amor. Secalhar estava escrito no destino. Agora, mais do que nunca, admiti-te. Mostrei-te, dei-te a ver. E Algarve e Lisboa nunca estiveram tão perto.

Estou a re-aprender a dar um abraço, um beijo, um aperto de mão às pessoas que realmente amo. Não vou deixar que os sentimentos saiam bloqueados. Amo a minha família e quero que ela saiba disso e palavras muitas vezes não chegam.

Não voltei ao Soito e fez-me falta.

Devia ter subido aos Alpes e ter-te levado comigo.

Deveria ter ido mais vezes ter contigo, passar fins-de-semana à beira mar e apanhar fruta das árvores.

Superei e recai. E ainda me assusta. Mas hoje sou mais forte.

Como sempre, foi um ano de grande aprendizagem, de sentimentos muito fortes, de desespero, de tristeza, de inseguranças. Foi um ano que me fez crescer e dar valor ao que tenho.

Certeza desta semana (ou quem sabe mesmo do ano...)

I don't belong here.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

I'll be waiting. I do.
Nesta altura do ano sou uma espécie de extra-terrestre para muita gente. Não gosto do Natal. Mas se não gosto, não é porque um belo dia acordei e achei que devia ser do contra. Tenho razões para isso, e quem me conhece bem sabe isso. E nesta altura sinto-me sempre super infeliz, um mal estar permanente, uma vontade de fugir. E lá tenho de fingir que tudo está bem. Há marcas que ficam, independentemente do tempo que passa. Sem algumas pessoas não faz sentido. E torna-se apenas uma época igual a tantas as outras, mas com mais luzes nas ruas e menos luz no meu coração.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Alguém explica aos senhores(as) da Fotosport que bluetooth e infra-vermelhos não são a mesma coisa?

Agradecida.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Há uns anos atrás (uns bons anos...) achava que quando fosse mais crescida me ia dedicar quase exclusivamente à carreira. Não dizia que não a namorados, mas pensar que eles ocupassem uma parte substancial da minha vida (aka do meu coração e da minha casa) estava completamente fora de questão.

Belo dia, andava eu numa fase de "reconstrução interna" e feliz pelas mudanças que estavam a acontecer, apareceu o R. Já há uns belos tempos que a nossa amiga em comum, a X., insistia que nos deviamos conhecer, e nós nada. Acho que nenhum de nós queria que outro alguém nos impusse-se um relacionamento. Mas um belo dia quando nada o fazia esperar ele apareceu no meio do meu grupo de amigas e eu... achei que ele tinha ar de deputado do PP. Para ajudar à festa apercebi-me que ele era amigo de um gajo que eu detestava. No, no, no. Altamente rotulado, achei logo que nem queria conhecê-lo melhor. Mas houve de certa forma duas ou três peripécias que fizeram que nos voltássemos a encontrar no dia seguinte... E a partir daí tudo aconteceu. Rapidamente apercebi-me que era com ele que queria ficar. Que o meu coração batia mais depressa quando estávamos juntos. Que ele me fazia feliz.

Apesar de muitos mal entendidos ao longo destes tempos, acho que apenas um grande amor pode resistir a tudo isto e em consequência tornar-se mais forte.

Mudei a minha maneira de pensar e de estar. Apesar de continuar a querer construir uma carreira sólida e fazer o que gosto, também quero (e muito) constituir familia.

Ele é o meu companheiro de amor e desamores. È quem está ao meu lado quando preciso. È com ele que quero partilhar os meus dias. È ele que conhece as minhas fraquezas e as minhas tristezas. È ele que conhece a minha ambição e os meus sonhos utópicos.


Hoje não saberia viver sem ti.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Depois de um dia com várias peripécias, um jantar lá pelo meio que podia de todo ter corrido melhor, junta-se o desfecho em grande: o dono do Pipers (essa instituição em Cascais) não só se esquece de metade do pedido feito como depois de o pedirmos diz-nos: "até amanhã". Oi? Até amanhã? Não seria: "Obrigado"? Que os empregados do jantar de natal da empresa pareçam carroceiros ainda dou um desconto (afinal de contas sei bem o que a casa gasta no mundo hoteleiro), agora o próprio dono de um bar com decádas, onde antes eu era uma cliente assídua, sai-se com esta? Mas o que é isto? Esqueceram-se do respeito pelo cliente?


Pipers, tosta mistas e prendas esquecidas à parte, o dia de Sábado foi até bem agradável. Apesar do frio, o sol estava fantástico e é sempre bom voltar a um local que consideramos nosso. E aí reencontrar pessoas que fazem parte do nosso passado e que desejamos que possam vir a fazer parte do nosso futuro. E então apercebi-me que já conto quase com 10 anos depois de uma grande viragem. E foi a partir daí que o mundo ficou de pernas para o ar. E que cresci. E que tanta coisa aconteceu...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

"Ah e tal, o senhor que agrediu o Berlusconi tem problemas mentais". Eu cá digo: qualquer pessoa normal teria vontade de fazer o que Massimo Tartaglia fez. E porque para já não estamos assim tão perto do também conhecido por Caimão, aqui ficaria o jogo, mas infelizmente o link já nos reserva esta mensagem:

Information for players:This game was created in a purely humorous.The political implications of this game in Italy therefore beyond our intentions, and lead us to remove access to the game.We condemn the aggression, and are sorry if we offend the sensibilities of some people. ooooooooooooooooooooooh

http://www.berlusconi-game.com/index.it.html

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Há uns anos atrás foi o martírio do género: "ah e agora o que vai ser de mim? Que licenciatura é que vou fazer? Faço ciência política, ou comunicação social, ou relações internacionais? Será que quero mesmo continuar a estudar?" E depois: "ah e tal, afinal não gosto de nada, só existe um curso que quero fazer mas tenho a certeza que não volto para aquela universidade, porque aquele prof. é uma palhaço e pregou-me uma rasteira, e é um crápula e blá, blá, blá." Conclusão: a minha mãe (leia-se - a mais querida do mundo, pois não é com leviandade que todas aceitam tamanho drama como eu fiz) lá esperou um ano. E eu deixei-me ficar. Até que um belo dia ela me deve ter aberto os olhos e disse: "Tens de voltar a estudar!" E eu lá muito contrariada comecei a pesquisa. Para começar (e nada mal) lá vem o curso de Informação, Documentação e Comunicação. E foi ouro sobre azul. Conheci pessoas muito diferentes que criavam uma dinâmica muito especial, o que originava uma grande troca de experiências e uma grande aprendizagem. Depois de alguns ataques de angústia miudinha e de frase da praxe ("Eu nunca vou ser capaz de fazer isto"), lá veio um bocadinho mais de segurança, e depois aprendi as coisas fantásticas que se podem fazer numa biblioteca, e que afinal eu era capaz de fazer aquilo e mais que tudo, eu era capaz de ser feliz a fazer aquilo. E assim foi. As oportunidades de trabalho foram surgindo (não da forma como as desejei...) e eu fiquei com vontade de aprender mais. Então... desisti da licenciatura que entretanto tinha começado (um claro erro de casting) e lá fui eu para outra. Esta é a 3ª licenciatura que frequento. E espero que a última. Estou no 3º ano e sou finalista. E orgulho-me disso. Aprendi que os obstáculos se ultrapassam, e que sou capaz. Mas claro que sei que sem algumas das pessoas que me são muito importantes tudo isto não teria sido possível. Precisamos de alguém que nos faça acordar, que nos diga que conseguimos, que nos dê aquele empurrão, que saiba esperar, que saiba compreender a nossa ausência, mas também que saiba compreender a nossa ambição. Essas pessoas... Elas sabem quem são... e assim, só me resta dizer:


um muito obrigada.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Contra o consumismo natalicío


Porque é que será que tenho a ligeira sensação que quem fez o plano curricular da minha licenciatura se lembrou de gozar connosco? Que #"!))=?#* de E-R, de modelo relacional e blá blá blá. Não posso mais com este trabalho e para os devidos efeitos ainda nem começou...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Seriously?!

Seriously.

Ele é Sistema de Gestão de Bases de Dados. É programar em Acess. São chaves primárias. É organogramas XPTO. É ambiente geral e ambiente tarefa. São os casos práticos. São as variáveis. E a departamentalização. E mais o meu amigo Mintzberg.

A sério. Há feriados mesmo maus.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Shadows

Um vício:







you tell me
that its getting better
but every time that we say goodnight [goodnight goodnight]

I'm haunted by your eyes
and how long they've been crying

don't tell me
about a bad reaction
don't tell me that you plan to hide [to hide to hide]
reasoning aside

I'm moving on
I hope your coming with me
I hope your coming with me

anyone can answer their own questions
all you have to do is look inside [inside inside]
you know it inside
you know it will be alright [alright alright]
you know its alright

I'm moving on
I hope your coming with me
cause I'm not strong
without you

don't blame it on
your shadows

cause I know all
about you



Porque me lembro tanto de ti quando oiço isto...

Uma pequena história

No primeiro dia de aulas de uma Universidade um jovem estudante apressado corria para a primeira aula quando, de repente, esbarrou com um senhor idoso que seguia no mesmo corredor.
- Perdão Professor, ia distraído, nem o vi - desculpou-se o jovem.
- Não sou professor meu rapaz, sou aluno – retorquiu o ancião.
- Aluno? Mas que idade tem o senhor? Perguntou o jovem.
- Tenho 73 anos.
- E em que curso está inscrito? Voltou a perguntar o jovem.
- Inscrevi-me em Medicina. É um sonho que sempre tive e que agora tentarei tornar realidade – respondeu o velhote.
- Eu também sou aluno de Medicina. Mas este curso dura 5 anos e depois mais 2 anos de estágio e mais 1 ano de especialização o que dá um total de 8 anos até estar em condições de exercer medicina. Quando terminar o senhor terá 80 anos – rematou o jovem estudante.
- Meu caro colega, de facto terei 80 anos se chegar lá. Mas se não seguir o meu sonho a única coisa que terei daqui a 7 anos serão apenas 80 anos e nada mais.
Não há nada mais precioso que o nosso tempo. Não conheço maior riqueza que essa. Podemos comprar tudo na vida, bastando estarmos dispostos a pagar e ter dinheiro para isso. O que não podemos comprar é tempo de vida.
O que podemos fazer com o nosso tempo, a nossa maior riqueza, só a nós diz respeito. Trocamos o nosso tempo por dinheiro quando trabalhamos, gastamos o nosso tempo com quem gostamos, etc. A maior desvantagem do nosso tempo é apenas uma: nunca pára, está sempre a contar, mesmo quando dormimos.
Portanto, meus amigos e amigas, quando chegarmos a Julho de 2010, desejo sinceramente que sintam a mesma felicidade do velho estudante de medicina que não quis só e apenas ter 80 anos, mas também concretizar o seu sonho.
Eu podia ter passado estes anos a mudar canais de televisão nas noites que dediquei a esta licenciatura ou a jogar vólei na praia, a bronzear-me e a beber caipirinhas na altura em que o calor dos p-folios nos derretiam os neurónios.
Cá estou para mais um ano que espero ser o último desta caminhada. E estou convosco para o que precisarem e me for possível ajudar-vos.
Espero que quando chegarem aos 73 também recebam um empurrão de um jovem estudante a caminho da sala de aula!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Parabéns Avó!

Pelos teus respeitosos 86 anos (e pelo teu respeitoso mau feitio). ADORO-TE!
(...)

Terror em cada uma daquelas pessoas na linda praia, no entardecer de tirar o fôlego. Terror de ficar sozinho, terror do escuro que povoava a imaginação de demônios, terror de fazer qualquer coisa fora do manual do bom comportamento, terror do julgamento de Deus, terror dos comentários dos homens, terror da justiça que punia qualquer falta, terror da injustiça que deixava os culpados soltos e ameaçadores, terror de arriscar e perder, terror de ganhar e ter que conviver com a inveja, terror de amar e ser rejeitado, terror de pedir aumento, de aceitar um convite, de ir para lugares desconhecidos, de não conseguir falar uma língua estrangeira, de não ter capacidade de impressionar os outros, de ficar velho, de morrer, de ser notado por causa de seus defeitos, de não ser notado por causa de suas qualidades, de não ser notado nem por seus defeitos, nem por sua! s qualidades.
“Espero que isso o deixe mais tranqüilo”, terminou o demônio. “Afinal, você não está sozinho com seus medos”.
“Por favor, não vá embora sem antes ouvir o que tenho a dizer” respondeu o homem. ”Temos uma capacidade incrível para detectar dores, remorsos, feridas – ou terror, como você prefere. Mas certa vez meu pai me contou a história de uma macieira que, de tão carregada de maçãs, não conseguia deixar que seus galhos cantassem com o vento. Alguém que passava perguntou porque ela não procurava chamar a atenção, como todas as outras árvores. ‘Meus frutos são minha melhor propaganda’, respondeu a macieira”.
“Claro que não sou diferente de ninguém, e meu coração abriga muitos medos. Mas apesar de tudo, os frutos de minha vida falam por mim, e se algum dia acontecer uma tragédia, eu sei que não passei minha vida sem arriscar”.
E o demônio, decepcionado, partiu para tentar assustar outras pessoas mais fracas.



Paulo Coelho
In Guerreiro da Luz

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O porque da Gestão

Conseguir justificar o injustificável. Esqueci-me que o estudar para técnico superior implica Gerir!



Raios partam os casos práticos.

domingo, 22 de novembro de 2009


Desde que era mais ou menos uma pré-adolescente que tinha o mesmo problema. Meti na cabeça que não tenho jeito nenhum com crianças e que lá no fundo até chegava a sentir um certo medo quando me apareciam pela frente magotes delas. Há medida que me fui especializando comecei a aperceber-me das coisas giras (e extremamente gratificantes) que se podiam fazer com... crianças. Então nos últimos anos tenho vindo a tentar lutar contra este meu "problema". E ontem, depois de muito drama, lá fui eu fazer um trabalho para a universidade que envolvia duas meninas lindas de quatro anos. Conclusão: não tive medo, não achei que tivesse tido "falta de jeito", adorei os momentos que passei com elas, e agora estou a adorar realizar o trabalho na sequência deste encontro. Este tipo de experiência é bom para me ensinar a não ser tão drama queen e também para me ensinar que os obstáculos se ultrapassam e claro, aprender a confiar mais em mim mesma. E assim descobri que existem formigões, e que a palavra boi é grande porque ele gosta e que aprendemos a escrever para sabermos o que é preciso comprar no supermercado :)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009


Acontece-me sempre o mesmo. Primeiro não sei o que escrever nos trabalhos para a universidade. Depois, não consigo parar de escrever. E lá vem mais um fim-de-semana de muita escrita...

sábado, 31 de outubro de 2009

As crianças noutros tempos

Este foi o inicio de um trabalho que adorei fazer sobre uma pessoa que também adoro...


As crianças até há bem pouco tempo não tinham direitos eram consideradas objectos, assumiam “a condição de serem não pessoas” (Marice, 1996, pp. 272-3)

Em meio século muitas coisas mudaram. A Convenção Internacional dos Direitos da Criança, aprovada a 20 de Novembro de 1989 e com carácter vinculativo veio estabelecer critérios e direitos que a pouco e pouco já vinham a ser adquiridos.

Ao longo dos últimos anos criaram-se imensas disciplinas que asseguram o bem-estar da criança, tendo em conta o seu desenvolvimento e os seus direitos. Quanto a isto, o fim dos anos 80, princípio dos anos 90 foram decisivos. Daí que entre uma pessoa que tenha nascido na década de 50 e uma nascida em pleno século XXI existam diferenças abismais.

X nasceu nos anos 50 numa aldeia beirã, onde as crianças começavam a trabalhar logo que tinham forças. Dizia o povo “quando já tinham corpo”, tempos de miséria em que mais dois braços representavam muita ajuda principalmente nas aldeias onde se trabalhava de sol a sol. Aplicava-se o provérbio “trabalho de menino é pouco mas quem o despreza é louco”. As crianças eram levadas desde cedo para o campo enquanto as mães trabalhavam.

Para além de se trabalhar para as próprias famílias, os mais pobres trabalhavam também para outros como “obreiros”. Este trabalho infantil não era pago, era “trocado” por outro trabalho por se considerar que as crianças não tinham força suficiente para desempenhar completamente a tarefa. Horas e horas de trabalho desvalorizado, horas de infância perdida por se considerar que as crianças tinham mesmo obrigação de trabalhar. Isso fazia parte do seu processo educativo.

Os irmãos mais velhos tomavam conta dos mais novos, isto não era trabalho, era obrigação.

Havia uma lei anterior ao fascismo que obrigava à escolaridade mínima de 3 anos. Mas não havia escolas suficientes nem professores. Ora havia professora ora não havia: custos da interioridade. Nas aldeias beirãs construíram-se escolas na aldeia sede de freguesia que serviam as várias aldeias de toda a freguesia. Mas não haviam transportes, as crianças deslocavam-se por caminhos de cabras, a pé, o que se traduzia em horas de caminho para chegar à escola e para regressar. As famílias não viam com bons olhos a ida dos filhos à escola porque um filho na escola significava menos dois braços para trabalhar. Só estas escolas (no interior) eram mistas porque só havia uma escola e um professor e na mesma sala reuniam-se alunos e alunas de todas a idades da 1ª à 4ª classe. Um trabalho extenuante para o professor que acabava por não ser muito eficaz porque era humanamente impossível dar quatro classes ao mesmo tempo. Era prática corrente entre os professores que eram originários das aldeias porem os alunos a trabalharem de graça nas suas propriedades. Dado que o professor era uma figura inatingível, respeitado como um Deus, as famílias dos alunos tinham que aceitar sem revolta. Mas isto levava a que muitas retirassem os filhos da escola, porque afinal se era para trabalhar no campo em vez de aprender a ler, era preferível trabalhar para a família.

No caso das raparigas a ida à escola era ainda pior, pois se considerava que as mulheres deviam ficar a tomar conta dos filhos e da casa. Havia um sentimento que ligava a escola à prostituição. Desconfiava-se das mulheres que sabiam ler. No fundo, o princípio era o de manter as pessoas na ignorância.

A única religião existente era a católica e todos eram baptizados ainda em bebés e tinham obrigação de ir à missa.

Toda a educação era baseada na repressão e no medo, reinava a “pedagogia da reguada”. Considerava-se que se não se batesse nas crianças elas não iam ser bem-educadas. Batia-se por tudo e por nada. X considera que era uma descarga de tensão para os adultos, que reprimiam as crianças para compensar a sua própria insatisfação e por acharem que educar era bater. As crianças tinham a noção que o dia a dia que as esperava era pancada, cansaço de trabalho e medo. Brincar era quase um crime porque era roubar tempo ao trabalho, como algo proibido.

O ensino não era estimulante, era desadequado da realidade. Que interessava a uma criança da beira saber as estações de caminhos-de-ferro de Angola quando a grande maioria nem tinha vista um comboio?

Nas aldeias as pessoas nasciam e morriam sem ir ao médico. Por isso havia tanta mortalidade infantil. As crianças nasciam em casas sem condições de higiene. As doenças infantis matavam, não havia vacinas nem acesso a medicamentos. A maioria tomava apenas três banhos na vida: no momento do nascimento, no dia do casamento e quando morria.

As roupas eram poucas, feitas em casa e tinham de ser usadas até ao fio, remendadas até não terem mais espaço para pôr remendos. As crianças mais pobres andavam descalças. Um par de sapatos tinha de durar pelo menos cinco anos, porque o esforço financeiro de arranjar uns novos era muito grande.

O pouco dinheiro que as pessoas conseguiam ao longo da vida era guardado para a velhice, para quando já não pudessem trabalhar porque não existiam reformas.

E pergunto a X: Depois de tudo isto…Consideras que a infância sem infância te prejudicou na adulta que és hoje?

Resposta de X: “Concerteza. A falta de infância sem infância gera adultos ou demasiado repressivos ou demasiado iguais aquilo que os pais foram com eles, ou demasiado permissivos por se lembrarem do que sofreram na infância com a repressão a que foram sujeitos. Adultos que não sabem viver, que não são capazes de procurar lazer sem sentimentos de culpa, ocupar o seu tempo livre, porque não aprenderam os jogos na devida altura, pouco instruídos também não se dedicam à leitura, enfim, adultos que facilmente caem em excessos como o álcool ou a droga ou mesmo o excesso de trabalho. Gente dura e pouco tolerante, porque é através da brincadeira, do espaço lúdico que criança absorve o mundo e constrói as suas relações com os outros, aprende a tolerância e o respeito. As gerações que viveram a infância antes do 25 de Abril só despertaram para os direitos das crianças com a infância dos próprios filhos. “

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Todos ao palco

Au Revoir Simone

Por esta altura julguei que já teríamos apanhado um avião até Milão e daí teríamos prosseguido até lá. Teríamos visto as flores selvagens, comido queijo parmesão, mirtilhos e panceta, teríamos visto neve no cume da montanha e brincado com espuma de barbear e cantado o Happy Nation em roupão. Teríamos sido felizes. Há tempos que demoram a vir.

Barcelona es poderosa #2






Barcelona é aquele tipo de cidade em que eu tenho a certeza absoluta que era capaz de ir para estudar, não, estou a mentir, era mesmo capaz de lá morar e não voltar. É uma cidade grande sem termos aquela sensação que nos esmaga, é uma cidade cheia de património arquitectónico em que temos sensação que Gaudioso (e outros tantos) se divertiram a embeleza-la (e onde não existem prédios devolutos), é uma cidade com uma luz fantástica como a de Lisboa, tem mar, tem vida, é cheia de oferta cultural , com ruas grandes e cheias de gente. Melhor que palavras, só mesmo algumas fotos!

Convivendo com os outros

Continue no deserto
- Por que o senhor vive no deserto?
- Porque não consigo ser o que desejo. Quando começo a ser eu mesmo, as pessoas me tratam com uma reverência falsa. Quando sou verdadeiro a respeito de minha fé, então elas que começam a duvidar. Todos acreditam que são mais santos que eu, mas fingem-se de pecadores com medo de insultar minha solidão. Procuram mostrar o tempo todo que me consideram um santo; e assim se transformam em emissários do demônio, me tentando com o Orgulho.
- Seu problema não é tentar ser quem é, mas aceitar os outros como são. E agir assim, é melhor continuar no deserto - disse o cavaleiro, afastando-se.

Perdoando os inimigos
O abade perguntou ao aluno preferido como ia seu progresso espiritual. O aluno respondeu que estava conseguindo dedicar a Deus todos os momentos de seu dia.
- Então, falta apenas perdoar os seus inimigos.
O rapaz ficou chocado:
- Mas não tenho raiva de meus inimigos!
- Você acha que Deus tem raiva de você?
- Claro que não!
- E mesmo assim você pede Seu perdão, não é verdade? Faça o mesmo com seus inimigos, mesmo que não sinta ódio por eles. Quem perdoa, está lavando e perfumando o próprio coração.

Porque deixar o homem para o sexto dia
Um grupo de sábios reuniu-se para discutir a obra de Deus; queriam saber por que havia deixado para criar o homem no sexto dia.
- Ele pensava em organizar bem o Universo, de modo que pudéssemos ter todas as maravilhas a nossa disposição - disse um.
- Ele quis primeiro fazer alguns testes com animais, de modo a não cometer os mesmos erros conosco - argumentou outro.
Um sábio judeu apareceu para o encontro. O tema da discussão lhe foi comunicado: “em sua opinião, por que Deus deixou para criar o homem no último dia?”
- Muito simples - comentou o sábio. - Para que, quando fossemos tocados pelo orgulho, pudéssemos refletir: até mesmo um simples mosquito teve prioridade no trabalho Divino.

O reino deste mundo
Um velho ermitão foi certa vez convidado para ir até a corte do rei mais poderoso daquela época.
- Eu invejo um homem santo, que se contenta com tão pouco – comentou o soberano.
- Eu invejo Vossa Majestade, que se contenta com menos que eu. Eu tenho a música das esferas celestes, tenho os rios e as montanhas do mundo inteiro, tenho a lua e o sol, porque tenho Deus na minha alma. Vossa Majestade, porém, tem apenas este reino.

Qual o melhor caminho
Quando perguntaram ao abade Antonio se o caminho do sacrifício levava ao céu, este respondeu:
-Existem dois caminhos de sacrifício. O primeiro é o do homem que mortifica a carne, faz penitência, porque acha que estamos condenados. Este homem sente-se culpado, e julga-se indigno de viver feliz. Neste caso, ele não chega a lugar nenhum, porque Deus não habita a culpa.
"O segundo é o do homem que, embora sabendo que o mundo não é perfeito como todos queríamos que fosse, reza, faz penitência, oferece seu tempo e seu trabalho para melhorar o ambiente ao seu redor. Neste caso, a Presença Divina o ajuda o tempo todo, e ele consegue resultados no Céu".

O trabalho na lavoura
O rapaz cruzou o deserto, e chegou finalmente ao mosteiro de Sceta. Ali, pediu para assistir uma das palestras do abade - e recebeu permissão.
Naquela tarde, o abade discorreu sobre a importância do trabalho na lavoura.
No final da palestra, o rapaz comentou com um dos monges:
- Fiquei muito impressionado. Achei que ia encontrar um sermão iluminado sobre as virtudes e os pecados, e o abade só falava de tomates, irrigação, e coisas assim. Do lugar aonde venho, todos acreditam que Deus é misericórdia: basta rezar.
O monge sorriu, e respondeu:
- Aqui, nós acreditamos que Deus já fez a parte Dele; agora cabe a nós continuar o processo.


In Guerreiro da Luz
Paulo Coelho

sábado, 24 de outubro de 2009

Barcelona es poderosa

Confirma-Se!






Porque tanto perderse tanto buscARSE sin encontrARSE

me encierran los muros de todas partes

Barcelona te esta's equivocANDO no puedes seguir ignorANDO

que el mundo sea otra cOSA y volar como maripOSA.

Barcelona hace un calor que me deja

fri'a por dentro con este vicio de vivir mintiendo

que bonito seria tu mAR si supiera yo nadAR.

Barcelona Y mientras esta' llena de cara de gENTE extranjera,

CONOCIDA, desCONOCIDA y vuelta a ser transparENTE.

No insisto ma's Barcelona _____

si no es cosa de tus ritos (o gritos?) tu laberinto extrovertido.

No he encontrado la rAZO'N porque me duele el corAZO'N

porque es tan fuerte que so'lo podre' vivIRTE en la distancia

y escribIRTE una canciO'N.

Te quiero Barcelona

*Mais novidades em breve

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Charlie Chaplin, The Great Dictator

"Our knowledge has made us cynical; our cleverness, hard and unkind. We think too much and feel too little. More than machinery, we need humanity. More than cleverness, we need kindness and gentleness."

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vencedores e Vencidos

Lisboa é uma cidade pequena. Prova disso é que nos últimos anos encontrei o meu ódio de estimação duas vezes. Aquelas pessoas que gosto nunca encontro na rua. Ou é karma meu ou então não percebo. Assusta-me saber que passados tantos anos ainda me transtorna vê-lo. Tive vontade de lhe perguntar tantas coisas, de lhe colocar tantos porquês. Houve tantas questões que me surgiram naqueles cinco minutos. Pûs em causa o meu percurso desde aí, a minha profissão, a minha formação, pensei nos ses. Teria sido mais feliz? (seria?), onde trabalharia agora? Que pessoas teria conhecido? Teria prosseguido estudos? Teria saído do país? Teria conhecido o R.? Ao menos desta vez estaríamos frente a frente sem intermediários, não haveria uma secretária ou uma professora a dizer que ele não podia (não queria) falar comigo, que estava demasiado ocupado na sua vida mesquinha. Não. Agora ele teria tempo, mas provavelmente diria que tinha sido um mal entendido. Não. Melhor ainda, diria que os outros tinham mentido, ou então, simplesmente diria que já não se lembrava de mim. Como pode não lembrar?
Não deixava de ter sido uma carreira que gostava de ter seguido, perto das tábuas, mas um pouco mais longe do sonho inicial - uma opção como tantas outras.
Na altura senti-me perdida, tive dificuldade em repensar, em arranjar soluções. Parei durante um tempo. Hoje, acho que foi melhor assim. As circunstâncias fizeram com que descobrisse uma nova forma de estar, fizeram-me alargar horizontes e perceber que também posso gostar de outras coisas. Teria sido confortável ter ficado licenciada aos 21 anos, mas não seria a pessoa que sou hoje. Quando desci aquele avenida com lágrimas nos olhos senti-me vencida, a voz fraquejou, pensei que era o fim do mundo, senti que o tinha deixado ganhar. Sei que houve apenas um vencedor, e hoje, mais do que nunca posso afirmar que afinal esse vencedor fui eu.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dias de chuva


Nestes dias fico completamente depressiva. Só me apetece ficar em casa a dormir até ao meio-dia e ficar agarrada à televisão e a uma caneca de chá no resto da tarde. E como se não fosse já suficiente o dia cinzento, ainda apanhei uma bela molha logo de manhã. Nestes dias devia ser proibido ir trabalhar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Isto uma pessoa vai de férias 5 dias e quando volta já há um escândalo com a Maitê Proença que enche as páginas dos blogues? Parece-me que ainda tenho uns rios de tintas para ler, que isto inteirar-me da nova realidade tem que se lhe diga.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Amália, Coração Independente

Por estar de férias tenho mais tempo para fazer aquelas coisas que adoro (leia-se ir a museus, cinemas, concertos, e claro "perder-me" pela cidade) e ontem tive oportunidade de ir à exposição Amália, Coração Independente no Museu Berardo. É uma forma de sabermos um pouco mais desta grande senhora do fado português (que acaba por se misturar com a história de Portugal), para além de podermos ver fotografias e vídeos lindíssimos. E lá pelo meio há uma instalação fantástica da artista plástica Joana Vasconcelos, numa reprodução dos brincos de Filigrana. Recomendo!



Museu Berardo - Fundação de Arte Moderna e Contemporânea


De: 06-10-2009 a 31-01-2010

Horários: 3ª,4ª,5ª,6ª,Sab,Dom



Por ocasião do décimo aniversário do desaparecimento de um dos grandes símbolos da cultura portuguesa do século XX - Amália Rodrigues - o Museu Colecção Berardo, em co-produção com a Fundação EDP - Museu da Electricidade, apresenta a exposição intitulada Amália, Coração independente, excerto do fado escrito pela própria e intitulado Estranha forma de vida.

Esta mostra pretende repensar a fadista através de documentos, pinturas e filmes, entre outros objectos e suportes, e retratar através deles o seu universo numa perspectiva viva e contemporânea. Uma retrospectiva da rainha do fado no seu estatuto de diva de vários repertórios, do fado à música ligeira, mas também enquanto estrela planetária - uma celebridade francesa, vedeta da televisão italiana ou japonesa que, a partir de um pequeno país e de uma forma de música muito específica, adquire um estatuto paradoxal como referência da World Music, desde o final da década de 1950.

O traje, desenhado e coordenado por Amália, o guarda-roupa, as jóias e as revistas que fazem parte do acervo da Fundação Amália em Lisboa, são elementos essenciais nesta retrospectiva, não só no âmbito da cronologia de introdução à exposição no Museu Colecção Berardo, mas também no núcleo dedicado ao tema e apresentado no Museu da Electricidade.



Endereço: Praça Império, 1449-003 LISBOA
Concelho: Lisboa
Distrito: Lisboa
Telefone: 213612913
URL: www.museuberardo.com

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Há homens assim


Este senhor tira-me do sério (não desfazendo é claro o meu homem que eu adoro), e sim, eu sei, é gay, mas que se há-de fazer quando se fica a um metro dele numa conferência? E depois acho-o um óptimo actor (para além de ser fofinho) e com muita pena minha ainda não vi nenhuma encenação dele, mas... não hão de faltar oportunidades!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Conferência Teatro e Educação

CONFERÊNCIAS | COLÓQUIOS | CONVERSAS
Salão Nobre
06 de Out


TEATRO E EDUCAÇÃO

6 Out
19h | Salão Nobre

com JOÃO MOTA, EUGÉNIA VASQUES, entre outros.
público-alvo Público em geral, professores, profissionais e alunos de Artes Cénicas

Au revoir simone

Hoje, na Aula Magna. Mais um concerto para me fazer sentir feliz.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Finalista!


Parece que é oficial: Sou finalista! Depois de andar a coleccionar primeiros anos nas universidades sinto-me super orgulhosa daquilo que alcancei e apesar de poder haver alguns precalços neste último ano nada me tirará esta sensanção de vitória e de missão cumprida. Espero brevemente comprar as fitas e a capa e quanto ao traje é que ainda me restam algumas dúvidas, mas ser uma capa negra é um sonho antigo. E pelo meio... claro que já ando a sonhar com o mestrado!

Em busca do sonho

Em busca do sonho
Quem ousa ter um projeto em sua vida, que ousa largar tudo para viver sua Lenda Pessoal, acabará conseguindo. O importante é manter o fogo no coração, e ter fibra para ultrapassar os momen­tos difíceis.
Lembrem-se: o desejo que está em nossa alma não veio do nada; Alguém o colocou ali. E este Alguém, que é puro amor e deseja apenas nossa felicidade, só fez isso porque nos deu, junto com o desejo, as ferramentas para realizá-lo.

A subida arriscada
Durante uma tempestade, o peregrino chega numa hospedaria, e o dono lhe pergunta onde está indo.
- Vou até as montanhas - responde.
- Desista - diz o dono. - É uma subida arriscada, e o tempo está ruim.
- Irei, sim - responde o peregrino. - Se meu coração chegou lá primeiro, será fácil segui-lo com meu corpo.

Qual o preço?
- O preço de viver um sonho é muito maior do que o preço de viver sem arriscar-se a sonhar? - perguntou o discípulo.
O mestre levou-o a uma loja de roupas. Ali, pediu que experi­mentasse um terno exatamente do seu tamanho. O discípulo obede­ceu, e ficou maravilhado com a qualidade da roupa.
Em seguida, o mestre pediu que experimentasse o mesmo terno - mas de um tamanho muito superior ao seu. O discípulo fez isto.
- Esse não serve. Está muito grande.
- Quanto custam estes ternos? - perguntou o mestre ao vendedor.
- Os dois custam o mesmo preço. Apenas o tamanho é diferente.
Na saída da loja, o mestre comentou com seu discípulo:
- Viver o sonho, ou abandonar o sonho, também custa o mesmo preço, geralmente muito caro. Mas a primeira atitude nos leva a comungar com o milagre da vida, e a segunda não nos serve para nada.

A busca do caminho
- Estou disposto a largar tudo. Por favor, me aceite como discípulo.
- Como um homem escolhe seu caminho?
- Pelo sacrifício. Um caminho que exige sacrifício é um caminho verdadeiro.
O abade esbarrou numa estante. Um vaso raríssimo despencou, e o jovem atirou-se no chão para agarrá-lo. Caiu de mal jeito e quebrou o braço, mas conseguiu salvar o vaso.
- Qual é o maior sacrifício: ver o vaso espatifar-se, ou quebrar o braço para salvá-lo?
- Não sei.
- Então não tente orientar sua escolha pelo sacrifício. O camin­ho é escolhido por nossa capacidade de nos comprometer com cada passo que damos enquanto o percorremos.

O discípulo embriagado
Um mestre zen tinha centenas de discípulos. Todos rezavam na hora certa – exceto um, que vivia bêbado.
O mestre foi envelhecendo. Alguns dos alunos mais virtuosos começaram a discutir quem seria o novo líder do grupo, aquele que receberia os importantes segredos da Tradição.
Na véspera de sua morte, porém, o mestre chamou o discípulo bêbado e lhe transmitiu os segredos ocultos.
Uma verdadeira revolta tomou conta dos outros.
- Que vergonha! – gritavam pelas ruas. - Nos sacrificamos por um mestre errado, que não sabe ver nossas qualidades.
Escutando a confusão do lado de fora, o mestre agonizante comentou:
- Eu precisava passar estes segredos para um homem que eu conhecesse bem. Todos os meus alunos eram muito virtuosos, e mostravam apenas suas qualidades. Isso é perigoso; a virtude muitas vezes serve para esconder a vaidade, o orgulho, a intolerância.
“Por isso escolhi o único discípulo que eu conhecia realmente bem, já que podia ver seu defeito: a bebedeira”.


In O Guerreiro da Luz
Paulo Coelho

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Leonard Cohen

Apesar de ser um senhor com uma idade já respeitável, tenho a sensação que se pudesse casava-me já com ele!
Com umas letras assim tão poéticas, com uma presença de palco inigualável, com uma voz que nos faz arrepiar, não me lembro de alguma vez me ter sentido tão em êxtase num concerto. E hoje, passados alguns meses de o ter visto ao vivo ainda me arrepio quando oiço no mp3 as suas músicas.


Ain't No Cure For Love
I loved you for a long, long time
I know this love is real
It don't matter how it all went wrong
That don't change the way I feel
And I can't believe that time's
Gonna heal this wound I'm speaking of
There ain't no cure, There ain't no cure, There ain't no cure for love
I'm aching for you baby
I can't pretend I'm not I need to see you naked
In your body and your thought
I've got you like a habit
And I'll never get enough
There ain't no cure, There ain't no cure, There ain't no cure for love
There ain't no cure for love There ain't no cure for love
All the rocket ships are climbing through the sky
The holy books are open wide
The doctors working day and night
But they'll never ever find that cure for love
There ain't no drink no drug (Ah tell them, angels)
There's nothing pure enough to be a cure for love
I see you in the subway and I see you on the bus
I see you lying down with me,
I see you waking up I see your hand,
I see your hair
Your bracelets and your brush
And I call to you, I call to you
But I don't call soft enough
There ain't no cure, There ain't no cure, There ain't no cure for love
I walked into this empty church I had no place else to go
When the sweetest voice I ever heard, whispered to my soul
I don't need to be forgiven for loving you so much
It's written in the scriptures
It's written there in blood
I even heard the angels declare it from above
There ain't no cure, There ain't no cure, There ain't no cure for love
There ain't no cure for love There ain't no cure for love
All the rocket ships are climbing through the sky
The holy books are open wide
The doctors working day and night
But they'll never ever find that cure,

That cure for love

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Estrela da Tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto

Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


José Carlos Ary dos Santos

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

O mundo são dois dias

e a Festa do Avante são três. Pois é. Este mote também se poderia aplicar ao Carnaval, mas como eu e essa época do ano não somos grandes amigas , prefiro aplicá-la ao Avante. Não sou comunista mas adoro "perder-me" pela Quinta da Atalaia. Adoro as exposições, as barraquinhas, os concertos, a comida e as bebidas dos diversos pontos do país e do mundo, o convivío, deitar-me na relva e ver o mundo a acontecer, e adoro desatar aos saltinhos ao som da Carvalhesa, é mais forte que eu. Depois há as partes más, especialmente aquelas em que nos dão ossos a fingir que são moamba e e nos fazem pagar 7€50. E depois há aquela parte em que fico de lágrima no olho quando vejo velhotes e pessoas com problemas de locomação que lá vão porque realmente acreditam no partido. E aí lembro-me do meu bisavô que foi preso político e penso no que ele sofreu e comove-me porque não consigo ser assim tão fiel a um partido político. E tenho pena que muita daquela gente que lá vai (refiro-me especialmente aos que têm entre 11 e 18 anos) esteja preocupada em apenas beber uns litros de cerveja e vodka quente e fumar umas coisas.