Lisboa é uma cidade pequena. Prova disso é que nos últimos anos encontrei o meu ódio de estimação duas vezes. Aquelas pessoas que gosto nunca encontro na rua. Ou é karma meu ou então não percebo. Assusta-me saber que passados tantos anos ainda me transtorna vê-lo. Tive vontade de lhe perguntar tantas coisas, de lhe colocar tantos porquês. Houve tantas questões que me surgiram naqueles cinco minutos. Pûs em causa o meu percurso desde aí, a minha profissão, a minha formação, pensei nos ses. Teria sido mais feliz? (seria?), onde trabalharia agora? Que pessoas teria conhecido? Teria prosseguido estudos? Teria saído do país? Teria conhecido o R.? Ao menos desta vez estaríamos frente a frente sem intermediários, não haveria uma secretária ou uma professora a dizer que ele não podia (não queria) falar comigo, que estava demasiado ocupado na sua vida mesquinha. Não. Agora ele teria tempo, mas provavelmente diria que tinha sido um mal entendido. Não. Melhor ainda, diria que os outros tinham mentido, ou então, simplesmente diria que já não se lembrava de mim. Como pode não lembrar?
Não deixava de ter sido uma carreira que gostava de ter seguido, perto das tábuas, mas um pouco mais longe do sonho inicial - uma opção como tantas outras.
Na altura senti-me perdida, tive dificuldade em repensar, em arranjar soluções. Parei durante um tempo. Hoje, acho que foi melhor assim. As circunstâncias fizeram com que descobrisse uma nova forma de estar, fizeram-me alargar horizontes e perceber que também posso gostar de outras coisas. Teria sido confortável ter ficado licenciada aos 21 anos, mas não seria a pessoa que sou hoje. Quando desci aquele avenida com lágrimas nos olhos senti-me vencida, a voz fraquejou, pensei que era o fim do mundo, senti que o tinha deixado ganhar. Sei que houve apenas um vencedor, e hoje, mais do que nunca posso afirmar que afinal esse vencedor fui eu.
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