Confesso que na noite do jantar de natal do escritório esperei receber um livro, mas não contava de todo que o meu amigo oculto se lembrasse de Saramago.
Depois de uma tentativa falhada de leitura do Memorial do Convento aos meus 15 anos nunca mais tentei sequer pegar num dos seus livros.
Não acredito que na adolescência se tenha propriamente a maturidade literária para se ler este tipo de escrita.
E eis que quando abro o embrulho deparo-me com o Ensaio sobre a Cegueira.
Primeiro a desilusão, depois o contentamento e entretanto senti-me sufocada, agoniada, angustiada com este livro.
Pode ser tudo tão verdade, tão certo, e é isso que dói, que magoa, que torna desconfortável.
Como é que Saramago consegue fazer uma descrição tão pormenorizada e tão assustadora?
Como é que nos faz sentir terror e compaixão (tal como numa tragédia grega)?
Como é que os seres humanos podem chegar tão baixo?
Tornarem-se mais animais que os animais?
Onde estão os nossos sentidos de sobrevivência?
Fazem falta neste mundo mais Saramagos, ele e a sua escrita simbolizam um grito, uma fuga, um alerta para aquilo que podemos chegar a ser.
Sim, é incomodativo, pode-nos provocar pesadelos, vontade de chorar.
Mas só percebemos o quanto degradantes podemos ser com estes gritos de alerta.
Temos de perceber as metáforas, saber os nossos limites, sabermos a que podemos estar dispostos, até que ponto podemos ser fortes......
3 comentários:
Festas brilhantes são os votos da vossa brilhozinhos!
Mas como é que um livro que não leste te transmite ja isso tudo? sera do filme?
(não entendi a 100%, sorry)
Beijo meu ♥,
A Elite
È que desde o dia 19 já o "devorei" quase todo.... Aquele que não li foi o Memorial do Convento!
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