sábado, 31 de outubro de 2009

As crianças noutros tempos

Este foi o inicio de um trabalho que adorei fazer sobre uma pessoa que também adoro...


As crianças até há bem pouco tempo não tinham direitos eram consideradas objectos, assumiam “a condição de serem não pessoas” (Marice, 1996, pp. 272-3)

Em meio século muitas coisas mudaram. A Convenção Internacional dos Direitos da Criança, aprovada a 20 de Novembro de 1989 e com carácter vinculativo veio estabelecer critérios e direitos que a pouco e pouco já vinham a ser adquiridos.

Ao longo dos últimos anos criaram-se imensas disciplinas que asseguram o bem-estar da criança, tendo em conta o seu desenvolvimento e os seus direitos. Quanto a isto, o fim dos anos 80, princípio dos anos 90 foram decisivos. Daí que entre uma pessoa que tenha nascido na década de 50 e uma nascida em pleno século XXI existam diferenças abismais.

X nasceu nos anos 50 numa aldeia beirã, onde as crianças começavam a trabalhar logo que tinham forças. Dizia o povo “quando já tinham corpo”, tempos de miséria em que mais dois braços representavam muita ajuda principalmente nas aldeias onde se trabalhava de sol a sol. Aplicava-se o provérbio “trabalho de menino é pouco mas quem o despreza é louco”. As crianças eram levadas desde cedo para o campo enquanto as mães trabalhavam.

Para além de se trabalhar para as próprias famílias, os mais pobres trabalhavam também para outros como “obreiros”. Este trabalho infantil não era pago, era “trocado” por outro trabalho por se considerar que as crianças não tinham força suficiente para desempenhar completamente a tarefa. Horas e horas de trabalho desvalorizado, horas de infância perdida por se considerar que as crianças tinham mesmo obrigação de trabalhar. Isso fazia parte do seu processo educativo.

Os irmãos mais velhos tomavam conta dos mais novos, isto não era trabalho, era obrigação.

Havia uma lei anterior ao fascismo que obrigava à escolaridade mínima de 3 anos. Mas não havia escolas suficientes nem professores. Ora havia professora ora não havia: custos da interioridade. Nas aldeias beirãs construíram-se escolas na aldeia sede de freguesia que serviam as várias aldeias de toda a freguesia. Mas não haviam transportes, as crianças deslocavam-se por caminhos de cabras, a pé, o que se traduzia em horas de caminho para chegar à escola e para regressar. As famílias não viam com bons olhos a ida dos filhos à escola porque um filho na escola significava menos dois braços para trabalhar. Só estas escolas (no interior) eram mistas porque só havia uma escola e um professor e na mesma sala reuniam-se alunos e alunas de todas a idades da 1ª à 4ª classe. Um trabalho extenuante para o professor que acabava por não ser muito eficaz porque era humanamente impossível dar quatro classes ao mesmo tempo. Era prática corrente entre os professores que eram originários das aldeias porem os alunos a trabalharem de graça nas suas propriedades. Dado que o professor era uma figura inatingível, respeitado como um Deus, as famílias dos alunos tinham que aceitar sem revolta. Mas isto levava a que muitas retirassem os filhos da escola, porque afinal se era para trabalhar no campo em vez de aprender a ler, era preferível trabalhar para a família.

No caso das raparigas a ida à escola era ainda pior, pois se considerava que as mulheres deviam ficar a tomar conta dos filhos e da casa. Havia um sentimento que ligava a escola à prostituição. Desconfiava-se das mulheres que sabiam ler. No fundo, o princípio era o de manter as pessoas na ignorância.

A única religião existente era a católica e todos eram baptizados ainda em bebés e tinham obrigação de ir à missa.

Toda a educação era baseada na repressão e no medo, reinava a “pedagogia da reguada”. Considerava-se que se não se batesse nas crianças elas não iam ser bem-educadas. Batia-se por tudo e por nada. X considera que era uma descarga de tensão para os adultos, que reprimiam as crianças para compensar a sua própria insatisfação e por acharem que educar era bater. As crianças tinham a noção que o dia a dia que as esperava era pancada, cansaço de trabalho e medo. Brincar era quase um crime porque era roubar tempo ao trabalho, como algo proibido.

O ensino não era estimulante, era desadequado da realidade. Que interessava a uma criança da beira saber as estações de caminhos-de-ferro de Angola quando a grande maioria nem tinha vista um comboio?

Nas aldeias as pessoas nasciam e morriam sem ir ao médico. Por isso havia tanta mortalidade infantil. As crianças nasciam em casas sem condições de higiene. As doenças infantis matavam, não havia vacinas nem acesso a medicamentos. A maioria tomava apenas três banhos na vida: no momento do nascimento, no dia do casamento e quando morria.

As roupas eram poucas, feitas em casa e tinham de ser usadas até ao fio, remendadas até não terem mais espaço para pôr remendos. As crianças mais pobres andavam descalças. Um par de sapatos tinha de durar pelo menos cinco anos, porque o esforço financeiro de arranjar uns novos era muito grande.

O pouco dinheiro que as pessoas conseguiam ao longo da vida era guardado para a velhice, para quando já não pudessem trabalhar porque não existiam reformas.

E pergunto a X: Depois de tudo isto…Consideras que a infância sem infância te prejudicou na adulta que és hoje?

Resposta de X: “Concerteza. A falta de infância sem infância gera adultos ou demasiado repressivos ou demasiado iguais aquilo que os pais foram com eles, ou demasiado permissivos por se lembrarem do que sofreram na infância com a repressão a que foram sujeitos. Adultos que não sabem viver, que não são capazes de procurar lazer sem sentimentos de culpa, ocupar o seu tempo livre, porque não aprenderam os jogos na devida altura, pouco instruídos também não se dedicam à leitura, enfim, adultos que facilmente caem em excessos como o álcool ou a droga ou mesmo o excesso de trabalho. Gente dura e pouco tolerante, porque é através da brincadeira, do espaço lúdico que criança absorve o mundo e constrói as suas relações com os outros, aprende a tolerância e o respeito. As gerações que viveram a infância antes do 25 de Abril só despertaram para os direitos das crianças com a infância dos próprios filhos. “

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Todos ao palco

Au Revoir Simone

Por esta altura julguei que já teríamos apanhado um avião até Milão e daí teríamos prosseguido até lá. Teríamos visto as flores selvagens, comido queijo parmesão, mirtilhos e panceta, teríamos visto neve no cume da montanha e brincado com espuma de barbear e cantado o Happy Nation em roupão. Teríamos sido felizes. Há tempos que demoram a vir.

Barcelona es poderosa #2






Barcelona é aquele tipo de cidade em que eu tenho a certeza absoluta que era capaz de ir para estudar, não, estou a mentir, era mesmo capaz de lá morar e não voltar. É uma cidade grande sem termos aquela sensação que nos esmaga, é uma cidade cheia de património arquitectónico em que temos sensação que Gaudioso (e outros tantos) se divertiram a embeleza-la (e onde não existem prédios devolutos), é uma cidade com uma luz fantástica como a de Lisboa, tem mar, tem vida, é cheia de oferta cultural , com ruas grandes e cheias de gente. Melhor que palavras, só mesmo algumas fotos!

Convivendo com os outros

Continue no deserto
- Por que o senhor vive no deserto?
- Porque não consigo ser o que desejo. Quando começo a ser eu mesmo, as pessoas me tratam com uma reverência falsa. Quando sou verdadeiro a respeito de minha fé, então elas que começam a duvidar. Todos acreditam que são mais santos que eu, mas fingem-se de pecadores com medo de insultar minha solidão. Procuram mostrar o tempo todo que me consideram um santo; e assim se transformam em emissários do demônio, me tentando com o Orgulho.
- Seu problema não é tentar ser quem é, mas aceitar os outros como são. E agir assim, é melhor continuar no deserto - disse o cavaleiro, afastando-se.

Perdoando os inimigos
O abade perguntou ao aluno preferido como ia seu progresso espiritual. O aluno respondeu que estava conseguindo dedicar a Deus todos os momentos de seu dia.
- Então, falta apenas perdoar os seus inimigos.
O rapaz ficou chocado:
- Mas não tenho raiva de meus inimigos!
- Você acha que Deus tem raiva de você?
- Claro que não!
- E mesmo assim você pede Seu perdão, não é verdade? Faça o mesmo com seus inimigos, mesmo que não sinta ódio por eles. Quem perdoa, está lavando e perfumando o próprio coração.

Porque deixar o homem para o sexto dia
Um grupo de sábios reuniu-se para discutir a obra de Deus; queriam saber por que havia deixado para criar o homem no sexto dia.
- Ele pensava em organizar bem o Universo, de modo que pudéssemos ter todas as maravilhas a nossa disposição - disse um.
- Ele quis primeiro fazer alguns testes com animais, de modo a não cometer os mesmos erros conosco - argumentou outro.
Um sábio judeu apareceu para o encontro. O tema da discussão lhe foi comunicado: “em sua opinião, por que Deus deixou para criar o homem no último dia?”
- Muito simples - comentou o sábio. - Para que, quando fossemos tocados pelo orgulho, pudéssemos refletir: até mesmo um simples mosquito teve prioridade no trabalho Divino.

O reino deste mundo
Um velho ermitão foi certa vez convidado para ir até a corte do rei mais poderoso daquela época.
- Eu invejo um homem santo, que se contenta com tão pouco – comentou o soberano.
- Eu invejo Vossa Majestade, que se contenta com menos que eu. Eu tenho a música das esferas celestes, tenho os rios e as montanhas do mundo inteiro, tenho a lua e o sol, porque tenho Deus na minha alma. Vossa Majestade, porém, tem apenas este reino.

Qual o melhor caminho
Quando perguntaram ao abade Antonio se o caminho do sacrifício levava ao céu, este respondeu:
-Existem dois caminhos de sacrifício. O primeiro é o do homem que mortifica a carne, faz penitência, porque acha que estamos condenados. Este homem sente-se culpado, e julga-se indigno de viver feliz. Neste caso, ele não chega a lugar nenhum, porque Deus não habita a culpa.
"O segundo é o do homem que, embora sabendo que o mundo não é perfeito como todos queríamos que fosse, reza, faz penitência, oferece seu tempo e seu trabalho para melhorar o ambiente ao seu redor. Neste caso, a Presença Divina o ajuda o tempo todo, e ele consegue resultados no Céu".

O trabalho na lavoura
O rapaz cruzou o deserto, e chegou finalmente ao mosteiro de Sceta. Ali, pediu para assistir uma das palestras do abade - e recebeu permissão.
Naquela tarde, o abade discorreu sobre a importância do trabalho na lavoura.
No final da palestra, o rapaz comentou com um dos monges:
- Fiquei muito impressionado. Achei que ia encontrar um sermão iluminado sobre as virtudes e os pecados, e o abade só falava de tomates, irrigação, e coisas assim. Do lugar aonde venho, todos acreditam que Deus é misericórdia: basta rezar.
O monge sorriu, e respondeu:
- Aqui, nós acreditamos que Deus já fez a parte Dele; agora cabe a nós continuar o processo.


In Guerreiro da Luz
Paulo Coelho

sábado, 24 de outubro de 2009

Barcelona es poderosa

Confirma-Se!






Porque tanto perderse tanto buscARSE sin encontrARSE

me encierran los muros de todas partes

Barcelona te esta's equivocANDO no puedes seguir ignorANDO

que el mundo sea otra cOSA y volar como maripOSA.

Barcelona hace un calor que me deja

fri'a por dentro con este vicio de vivir mintiendo

que bonito seria tu mAR si supiera yo nadAR.

Barcelona Y mientras esta' llena de cara de gENTE extranjera,

CONOCIDA, desCONOCIDA y vuelta a ser transparENTE.

No insisto ma's Barcelona _____

si no es cosa de tus ritos (o gritos?) tu laberinto extrovertido.

No he encontrado la rAZO'N porque me duele el corAZO'N

porque es tan fuerte que so'lo podre' vivIRTE en la distancia

y escribIRTE una canciO'N.

Te quiero Barcelona

*Mais novidades em breve

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Charlie Chaplin, The Great Dictator

"Our knowledge has made us cynical; our cleverness, hard and unkind. We think too much and feel too little. More than machinery, we need humanity. More than cleverness, we need kindness and gentleness."

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Vencedores e Vencidos

Lisboa é uma cidade pequena. Prova disso é que nos últimos anos encontrei o meu ódio de estimação duas vezes. Aquelas pessoas que gosto nunca encontro na rua. Ou é karma meu ou então não percebo. Assusta-me saber que passados tantos anos ainda me transtorna vê-lo. Tive vontade de lhe perguntar tantas coisas, de lhe colocar tantos porquês. Houve tantas questões que me surgiram naqueles cinco minutos. Pûs em causa o meu percurso desde aí, a minha profissão, a minha formação, pensei nos ses. Teria sido mais feliz? (seria?), onde trabalharia agora? Que pessoas teria conhecido? Teria prosseguido estudos? Teria saído do país? Teria conhecido o R.? Ao menos desta vez estaríamos frente a frente sem intermediários, não haveria uma secretária ou uma professora a dizer que ele não podia (não queria) falar comigo, que estava demasiado ocupado na sua vida mesquinha. Não. Agora ele teria tempo, mas provavelmente diria que tinha sido um mal entendido. Não. Melhor ainda, diria que os outros tinham mentido, ou então, simplesmente diria que já não se lembrava de mim. Como pode não lembrar?
Não deixava de ter sido uma carreira que gostava de ter seguido, perto das tábuas, mas um pouco mais longe do sonho inicial - uma opção como tantas outras.
Na altura senti-me perdida, tive dificuldade em repensar, em arranjar soluções. Parei durante um tempo. Hoje, acho que foi melhor assim. As circunstâncias fizeram com que descobrisse uma nova forma de estar, fizeram-me alargar horizontes e perceber que também posso gostar de outras coisas. Teria sido confortável ter ficado licenciada aos 21 anos, mas não seria a pessoa que sou hoje. Quando desci aquele avenida com lágrimas nos olhos senti-me vencida, a voz fraquejou, pensei que era o fim do mundo, senti que o tinha deixado ganhar. Sei que houve apenas um vencedor, e hoje, mais do que nunca posso afirmar que afinal esse vencedor fui eu.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Dias de chuva


Nestes dias fico completamente depressiva. Só me apetece ficar em casa a dormir até ao meio-dia e ficar agarrada à televisão e a uma caneca de chá no resto da tarde. E como se não fosse já suficiente o dia cinzento, ainda apanhei uma bela molha logo de manhã. Nestes dias devia ser proibido ir trabalhar.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Isto uma pessoa vai de férias 5 dias e quando volta já há um escândalo com a Maitê Proença que enche as páginas dos blogues? Parece-me que ainda tenho uns rios de tintas para ler, que isto inteirar-me da nova realidade tem que se lhe diga.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Amália, Coração Independente

Por estar de férias tenho mais tempo para fazer aquelas coisas que adoro (leia-se ir a museus, cinemas, concertos, e claro "perder-me" pela cidade) e ontem tive oportunidade de ir à exposição Amália, Coração Independente no Museu Berardo. É uma forma de sabermos um pouco mais desta grande senhora do fado português (que acaba por se misturar com a história de Portugal), para além de podermos ver fotografias e vídeos lindíssimos. E lá pelo meio há uma instalação fantástica da artista plástica Joana Vasconcelos, numa reprodução dos brincos de Filigrana. Recomendo!



Museu Berardo - Fundação de Arte Moderna e Contemporânea


De: 06-10-2009 a 31-01-2010

Horários: 3ª,4ª,5ª,6ª,Sab,Dom



Por ocasião do décimo aniversário do desaparecimento de um dos grandes símbolos da cultura portuguesa do século XX - Amália Rodrigues - o Museu Colecção Berardo, em co-produção com a Fundação EDP - Museu da Electricidade, apresenta a exposição intitulada Amália, Coração independente, excerto do fado escrito pela própria e intitulado Estranha forma de vida.

Esta mostra pretende repensar a fadista através de documentos, pinturas e filmes, entre outros objectos e suportes, e retratar através deles o seu universo numa perspectiva viva e contemporânea. Uma retrospectiva da rainha do fado no seu estatuto de diva de vários repertórios, do fado à música ligeira, mas também enquanto estrela planetária - uma celebridade francesa, vedeta da televisão italiana ou japonesa que, a partir de um pequeno país e de uma forma de música muito específica, adquire um estatuto paradoxal como referência da World Music, desde o final da década de 1950.

O traje, desenhado e coordenado por Amália, o guarda-roupa, as jóias e as revistas que fazem parte do acervo da Fundação Amália em Lisboa, são elementos essenciais nesta retrospectiva, não só no âmbito da cronologia de introdução à exposição no Museu Colecção Berardo, mas também no núcleo dedicado ao tema e apresentado no Museu da Electricidade.



Endereço: Praça Império, 1449-003 LISBOA
Concelho: Lisboa
Distrito: Lisboa
Telefone: 213612913
URL: www.museuberardo.com

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Há homens assim


Este senhor tira-me do sério (não desfazendo é claro o meu homem que eu adoro), e sim, eu sei, é gay, mas que se há-de fazer quando se fica a um metro dele numa conferência? E depois acho-o um óptimo actor (para além de ser fofinho) e com muita pena minha ainda não vi nenhuma encenação dele, mas... não hão de faltar oportunidades!

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Conferência Teatro e Educação

CONFERÊNCIAS | COLÓQUIOS | CONVERSAS
Salão Nobre
06 de Out


TEATRO E EDUCAÇÃO

6 Out
19h | Salão Nobre

com JOÃO MOTA, EUGÉNIA VASQUES, entre outros.
público-alvo Público em geral, professores, profissionais e alunos de Artes Cénicas

Au revoir simone

Hoje, na Aula Magna. Mais um concerto para me fazer sentir feliz.