sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Do amor

"Quem é que tem a sorte de ter um amor dele ou dela que ama ou que tem, seja amado ou amada? Tenho eu e conheço muitas pessoas que já têm ou que vão ter. Mas, tal como todos os outros apaixonados e todas as outras apaixonadas, desconfio, com calor na alma, que ninguém tem o amor que eu tenho pela Maria João, meu amor, minha mulher, minha salvação.
O amor sai caro - medo de perdê-la, medo do tempo a passar, medo do futuro - mas paga-se sem se dar por isso. Mentira. Dá-se por isso só nos intervalos de receber, receber, receber e dar, dar, dar.
Basta uma pequena zanga para parecer que todo aquele amor desmoronou: "Onde está esse teu apregoado amor por mim (de mãos nas ancas), agora que eu preciso dele?"
Quanto maior o amor, mais frágil parece. Quanto maior o amor, mais pequeno é o gesto que parece traí-lo. Mas com que alegria nos habituamos a viver nesse regime de tal terror!
Maria João, meu amor: o barulho que faz a felicidade é ouvires-me a perder tempo a resmungar e a pedir que tudo continue exactamente como está, para sempre. Que nada melhore. Que não tenhamos mais sorte do que já temos. Que nada mude nunca, a não ser quando mudamos juntos. E que fiquemos sempre não só com o que temos mas um com o outro.
É este o tempo que eu quero que dure, tu és o amor que eu tenho. Nunca te demores quando estás longe de mim, tem sempre cuidado, trata-te nas palminhas, que, cada vez que olho para ti, o meu coração cresce e eu amo-te cada vez mais. "

Miguel Esteves Cardoso, in 'Jornal Público' (14 Fevereiro 2013)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

De volta

Este blog enquanto esteve fechado não teve grandes entradas. A ideia era que pudesse ser uma fuga, um escape a toda a porcaria que o mundo laboral me tinha trazido.
Mas durante muito tempo nem me senti capaz de transpor em palavras o que me ia cá dentro. Escrevi algumas coisas mas todas elas eram demasiado fatídicas e tristes. E por isso nem tenho grande vontade de as reler.

Hoje, passaram-se alguns meses desde o meu último dia de trabalho e sinceramente não posso dizer que esteja curada. A última coisa que tenho vontade é de reingressar em ambientes que a única coisa que trazem é dissabores.

Gostava de dizer que cresci e que ganhei defesas mas isso não é verdade. Estou mais atenta, mas cá dentro ainda sou a menina ingénua que acredita nas pessoas.

E por ser essa menina que ainda acredita no mundo continuo a sofrer bastantes desilusões.

Hoje é mais um dia para dizer: estou desempregada e feliz. Sim. É verdade. O dinheiro de mês para mês encurta e isso é cada vez menos viável e basicamente é a única coisa que me põe uma corda na garganta. De resto... estou grata por tudo o que tenho na minha vida. O meu amor, a minha família, as minhas meninas, os meus amigos (que não vejo tanto quanto desejaria mas que sei que estão presentes), o meu calor, o meu porto de abrigo.

Sou feliz. E não há muita gente que o possa dizer.